sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

os guerreiros do espaço



afago o teu último sopro no meu cólo
o coração preparando-se para levitar
e o último revirar dos olhos
feras que agora aguardam o reencontro
totem...força...lugar desabitado

um aperto

ecoam pela casa o caminhar das patas
o olhar sempre ávido de afecto
e uma brancura nova qual a pedra de um jazigo
muito polida de nova

bestializante egossoma fonte
a pia batismal de atribuição de animal
licantrópica, a mulher que transporta o mineral
incandesça epifânica sereia serpente
no mergulho da mente latejaste
os espectros da respiração sob o pêlo
e as crostas do tempo que não volta atrás
estes são os senhores da morte, o jogo de reflexos
eclodindo sentidos para um cume pneumático
e os últimos passos de arrasto
simulacros de um prolongamento em vão
embrulhei-te numa manta de retalhos
essa tapeçaria de afecto para a última hora
o escudo pendular que o veado branco transporta
dama pé de cabra, foram precisas muitas horas
para nascer o poema da partida
ciclópe animal epifânico
a cura para os dias mais tristes
a presença vigilante de um guardião fiel
partes de volta ao ventre, quente
para continuar enigmáticamente aqui
uma pequena sala deserto
a morte líquida
será que sentes o tempo dentro de ti?
vejo-te carregada no dorso de um touro
nessa espécie agora de sacrossanto
a desnuda verdade para emendar a inocência
uma fragata de malditos submarinos
acredito no caminho silencioso e imóvel
as águas murmúrios onde os cascos aplainam
as mais antigas leis da vida

como tempestade magnética
levantam as penas da cauda uma figura parda
paira no céu
paira o inexplicável voo
tudo é insofismável
ás vezes dói me a alma como células predadoras
a insónia de um velho pescador que não sobe ao mar
paira nas ruínas da praia
a noite aguda do tempo aéreo peninsular
e o cair na lama de carcaças conchas sem pérola
a noite aguda, envolta de cedros caindo numa cápsula espacial
tal um pequeno planeta lobotomizado
os motores na junção do reverso
inatacável chão
ou o mosquito que ignora a trajectória
o suor gélido de um cadáver
como um cigarro autómato no canto da boca
parte de nós morre todos os dias pelo caminho
renovam-se e renascem outras tantas
são os espinhos da vida
qual uma nota que ascende do fim da escala
blimunda carnal
a ligeira comichão de um peixe que rasga a onda
para a renovação do oxigénio
monocordicamente aquela sílaba de injecção vital
o polimento da armadura
e a cidade luz onde perpetuam os sonhos
abrem alas para os escaravelhos esfíngicos
as portas ósculo para a saudação da paz
in perpetuum
apertar o xaile ao ventre
esticar as asas para o ritmo dos seus ponteiros
cobertos de pó um tique saquear de mais e mais
e a absolvição da dissociação: almas determinadas
veste-me um casaco de pêlo cinza
cobre-me de calor e força e necrosofia
brindo à nossa união com um cálice vazio
tenho ainda muita sede daquilo que não conheço
e um sopro incansável que corre por nós duas
tu não tens culpa, eu talvez não
deixo-te as minhas palavras de perdão
e o elogio do aperto do meu..coração