sexta-feira, 7 de junho de 2024

Espaços em branco

 

O branco lugar de larva memorial
aos pés desenham insectos linhas de trânsito 
sem colisão, sensores perfeitos de mecânico 
os dedos dos pés criptam e arranham
os dentes rangem para mastigar alma
os olhos persianas semi cerradas 
um deserto ou desertor de si próprio 
grão onde dedos que dançam se enterram
a língua desenrola-se e dela flui uma torre
o horizonte é sombra de altitude 
negra a torre de tabuleiro movimenta-se 
um tom de castanho mais pobre mais adentro
como se tivesse criado uma distância maior
na óptica de insecto atarantado
ou de pássaro esborrachado contra aresta
é com o movimento ciclónico movediço
que das dunas crescem crostas na pele
a areia seca de chuva ácida como castelo 
que umas mãos pequeníssimas engoliram
intermitente na linha nasce o fio oceânico 
as pálpebras quebradas de luz
o coração terráqueo 
a criança atada ao branco 
num mantra de pavões de aço
a cela canta tão alto que não se sente
não sabe a que deus, não sabe a que céu 
talvez peixes ou cactos-cavalos 
espelhos desmaiados de pedaços parede
e uma porta nave fuga 
a chave de todas as portas esquecida
quem se pode atravessar só perdido
de celeste a pesado pedaços de vácuo 
num tempo de tudo ao mesmo tempo
de célula e solidão cambalhota de contração
o ser é um estado particulado que se atravessa
como se sonhos sonhados ao mesmo tempo
a língua retoma com a fome dos sem tecto
o branco ainda preso na perna de elefante
raiz de restos espectros
agora que nos vemos de frente
estamos de pé porque vertebrados 
os olhos estufas húmidas de mofados
dedos sem folhas e sem desenhos de castas
dedos que ainda não se tocam
eram crianças despidas de anos
e dos lábios apertos de gargantas secas
...deixaram passar anos...
um voltar a si de planeta sem rotação
com a canseira de quem acabou de chegar
sem ter visto nada
do rebentar da semente talvez mutante
e já acumulador de tralha de tanta gente
um ser de onda invertida contra a linha
com o punho enfiado na terra 
a torre deixa-se ponto vestígio
terra ao núcleo glaciar ou plasma
ao feto objecto deixa-se uma herança de nadas
Feto que há-de crescer inseto
uma e outra vez
insecto de trânsito mecânico 

-assim me parto, deixo as pernas e um quarto, levo apenas um braço e um pescoço helénico...
talvez possa dar jeito para ver do buraco do tecto a cúpula finita do pensamento 
-partimos juntos então...