Por cima da minha cabeça paira um Jardim...suspenso..se penso que entendo a área que vejo, me engano. É todo o meu desconhecimento. Por cima da minha cabeça paira...paira, um jardim suspenso, preso a nada. A dimensão é vaga, vaporizada na copa de cada árvore, como algodão de sonho. Acendo um cigarro e da minha boca sai uma coluna de fumo que atravessa esse jardim...abrindo espaços vazios, buracos num quadro precário. Que se fecha na mesma velocidade, redesenhando cada folha e cada ramo. Em tranquilidade. E os meus pés descalços sobem degraus de pedra fria. A cada passo acima, deixo para trás uma terra que já não é minha. Também eu me vou desvanecendo em cada linha, absorvida nos vapores botânicos de desmaios verdes. Da carne ao vegetal, do peso à leveza total. Quanta beleza me envolve e me escolhe. Lá em baixo, tudo parece cada vez mais pequeno. Sou eu que me afasto, como uma balão perdido de uma mão. Aqui não há perfume, não há toque, não há tempo e, por isso...tudo se funde num só corpo aquoso, vaporozo. Eu sou jardim, suspenso sobre o que antes era, mim. Dito assim parece triste mas mal consigo descrever a harmonia que agora existe. Queres guardar isto? Se tiver alguma utilidade sim, senão vai para o lixo. E sem pedido meu, sem vontade nenhuma..num escaço sopro de segundo, sou sugada à terra. Como se alguém tivesse engolido todo esse momento, numa expiração invertida e voluntária. Olho ainda para cima, na esperança de que esse jardim ainda lá esteja, fecho os olhos e tento lá voltar, como quando acordamos a meio de um sonho bom e fazemos um esforço para lá voltar. Mas tudo o que me envolve tem agora cheiro, tem ruído e tem tempo. Sinto até o gosto amargo de um regresso imposto. Talvez seja o efeito do veneno que regressa à minha boca.
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