sábado, 29 de janeiro de 2022

Magenta Pixilizada

 

Olho no espelho límpido supremo
a imagem única de que não padeço 
duna, gradação, vermelho vivo
queixam-se os músculos da criação 
nas dúzias de dias que afinal foram felizes
porque se reduz à pobreza só porque são ordenados
sem folga, 
entenda-se a cor do sangue amplo
do animal capelo que  deixa a pele de inverno
no interior salgado
deixa -se a alma secando ao sol
no silêncio e na luz do dia torturado
deixei-me em tons demolhados vezes 
nas nuvens que fogem quando chove
alguns moinhos de papel caem na sua sombra 
a ampliação deserta de se chegar a velho
porque também é preciso envelhecer
o momento em que a onda nos quebra
nas balizas do tempo
e as pancadas do mar revolto
são assim a espuma que fica no canto da boca
exausto de tanta pancada na cabeça 
hoje somos a mira, sem filtro brando
é como se a noite se fosse calando 
numa ânsia de pescador sem rede
sinto tantas vezes marulhar
a vida parece que não desembrulha
bato punhadas no peito
poucas vezes esteve suspenso
o instinto espacial de um corpo
que com o hábito se acostuma a morto
o faro, as costas do homem que se vai polindo
endoideço com o barco enxuto 
com o céu que não muda de cor
na grande jornada 
no inverno acolhemos a casa
 que nos acudam
as janelas fechadas sem brasa 
que nos fixam no dia morto
que nunca se vestiu de mortalha
no leme que segue sem mãos à barra
com os dentes todos dentro da boca
com o horror e a ternura de que tudo 
se há-de acabar






segunda-feira, 24 de janeiro de 2022

Habitat celestial

 

denso como a atmosfera de Vénus
algo incógnito latejando no espaço
o volume da planície comporta-se fibroso
os anos entrelaçando-se de tempo líquido
origami desdobrável a vida rotativa 
das impossíveis observações óticas
à velocidade da sua própria degradação
lâminas de um véu que se vai desfiando
o corpo frio pousado sobre o banco
um banco de pedra que amanhã será areia
qual afrodite sem campo magnético
personagens encerradas no efeito de sufoco
magnetosfera induzida de dor
os cabelos cobrindo o chão solar
uma paz em desambiguação 
objetos celestes em posição fetal
comprimindo e dilatando 
num sistema de crenças frágeis
saber que olhando para esse falso observatório 
a morte espectral surge de um horizonte
cada vez mais digital
relógios sem calma cães raivosos sem festa
naves que derrapam acusticamente 
em gritos de falsas cordas 
o desentendimento das linhas do vazio
que nos coseram o corpo de dogmas
e falsos profectas para curar feridas
que só podem estar a céu aberto
livres, sinto nada de alma envenenada
leve como uma pena leve como uma pena
sinto nada que valha a pena
a atmosfera é um buraco negro
uma amostra sem missão à deriva
assim um bote encalhado no seco
assim é a astrometria do medo
a astrometria do medo

Hábitat celestial
denso como la atmósfera de Vénus
algo incógnito latiendo en el espacio
el volumen de la planicie se compuerta hebroso
los años entretejéndose de tiempo líquido
papiroflexia desplegable la vida rotativa
de las imposibles observaciones ópticas
a la velocidad de su propia degradación
láminas de un velo que va deshilándose
el cuerpo frío posado sobre el banco
un banco de piedra que cras será arena
como afrodita sin campo magnético
personajes encerradas en el efecto del ahogo
magnetósfera inducida de dolor
el pelo cubriendo el suelo solar
una paz en desambiguación
objetos celestes en posición fetal
comprimiendo y dilatando
en un sistema de creencias frágiles
saber que mirando para ese falso observatorio
la muerte espectral surge de un horizonte
cada vez más digital
relojes sin calma perros rabiosos sin caricia
naves que derrapan acústicamente
en gritos de falsas cuerdas
el desentendimiento de las líneas del vacío
que nos cosieron el cuerpo con dogmas
y falsos profetas para sanar heridas
que solo pueden estar a cielo abierto
libres, sin nada de alma envenenada
ligera como un pluma ligera como una pluma
siento que nada valga la pena
la atmósfera es un agujero negro
una muestra sin misión a la deriva
así una barca encallada en seco
así es la astrometría del miedo
la astrometría del miedo

Tradução por Duarte Fusco