Temos algarismos em rodapé
em direcção ao crepúsculo
nas cristas da aeronave para dispersar
a milhas de altitude
inspira-se e o corpo larga o chão
comparo a sensação à partida desta vida
parte-se do corpo terrestre em ondulação da alma
agora o corpo repousa-me na cama de hotel
repele sem tréguas a imagem de outro corpo
num trote diferente
tinha a palma da mão sobre o peito
no lugar da câmara obscura
a imagem acabada de vagar
um fósforo tosco para preencher em trânsito
na crina luminosa do planeta carmim
afasta-se a trote pesado
lá em cima mais acima a noite pende de armação
linhas de constelação para uma primavera
de olhos claros de vidro
sacos de bagagem para a digestão
de parturientes aos pés do sol
a boca ligeiramente aberta para a transfiguração
todos temos um cosmos infinito
que percorre insessante a ordem natural
o gemido débil
o vasto campo dos mortos
entre as sepulturas de pássaros estáticos
que por acaso ficam colados ao vidro
temos algarismos de adição, a matemática da solidão
filtrar das pálpebras a hélice e o rasgo
doia lhe o peito do lado errado
o coração já na frequência da despedida
e o calor intenso do dia que cá fica
Tantos números que nos compõem esses dias...
e não encontro qualquer teoria matemática para a noite galáctica
por aqui tenho comissário de bordo, piloto
tenho ainda pulsação e sensação
tenho ainda tanto que atravessar na escuridão
que por missão me descrevo avião