domingo, 27 de março de 2022

Que te fulmine o espaço

 

Temos algarismos em rodapé 
em direcção ao crepúsculo 
nas cristas da aeronave para dispersar
a milhas de altitude
inspira-se e o corpo larga o chão 
comparo a sensação à partida desta vida
parte-se do corpo terrestre em ondulação da alma
agora o corpo repousa-me na cama de hotel
repele sem tréguas a imagem de outro corpo
num trote diferente 
tinha a palma da mão sobre o peito
no lugar da câmara obscura
a imagem acabada de vagar 
um fósforo tosco para preencher em trânsito 
na crina luminosa do planeta carmim
afasta-se a trote pesado
lá em cima mais acima a noite pende de armação 
linhas de constelação para uma primavera 
de olhos claros de vidro
sacos de bagagem para a digestão 
de parturientes aos pés do sol 
a boca ligeiramente aberta para a transfiguração 
todos temos um cosmos infinito
que percorre insessante a ordem natural
o gemido débil 
o vasto campo dos mortos 
entre as sepulturas de pássaros estáticos 
que por acaso ficam colados ao vidro
temos algarismos de adição, a matemática da solidão 
filtrar das pálpebras a hélice e o rasgo
doia lhe o peito do lado errado 
o coração já na frequência da despedida
e o calor intenso do dia que cá fica
Tantos números que nos compõem esses dias...
e não encontro qualquer teoria matemática para a noite galáctica 
por aqui tenho comissário de bordo, piloto 
tenho ainda pulsação e sensação 
tenho ainda tanto que atravessar na escuridão 
que por missão me descrevo avião 










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