domingo, 10 de abril de 2022

Câmaras de oxigénio

 

um labirinto de artérias de verdes 

com uma espécie de candura luminosa

espaçada de lugares e coisas para sobreviver

guardam-se pérolas em ferida

as forças do ludo magro e negro

um oceano aquilino abismal e primitivo 

para engolir o sangue dos anfíbios 

um sonho povoado de prata lunar

e mistérios  inominais

andam de gatas sem guarnição 

de olhos aguados ventres caídos 

e peregrinações de vago

fica-se farto de fronteiras

quando se emerge do aquático ao aéreo

Aqui tudo muda, o nosso corpo pesa 

blocos de pedra outrora pantanosa

o sol escalda sofre-se de suor 

e um cão invisível persegue-nos as pernas

o som escapa-se de latidos furibundos

faz-se uma pausa para enterrar os barcos

na areia desenham-se passos

e fanfarras de pássaros comitiva

somos fragata de ossos suicida


semanas de divagação cerrada a bordo

de uma carroça cilíndrica voadora

uma matilha de nuvens carregadas

correntes de inesgotável dor

para urinar de dentro para fora

ser sitiado de memórias encardidas

desciam do além céu para restos

bocados de braços, unhas, cabelos

que uma e outra vez foram sedimentados


Fica o riso de uma gaivota em improviso...





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