Tinha os dedos amarelos de nicotina, as botas de poeira
o sol pelas costas e uma estrada de alcatrão sem fim
a incursão ao calcado medo dos mortos
o salto bate, na ardência do olhar
os campos engolindo a fadiga do ser
o acelerador de um motor de uma sementeira de vagos horizontes
figuras espectros do cigarro que chega aos dedos
um pavão branco que se abre ao vento
liames de universos antes fechados
na beira da estrada uma caravana abandonada
como final de viagem anunciada
una lâmina de barba, uma lata de cerveja
bibelôs para amaciar a vida
para a resistência de uma lição a giz nas pálpebras
de uma ardósia infância entorpecida
plantações epopeias de caravelas de fruto
a uma pintura viril, apartada de cólera
e a mão uma fenda no coração da guitarra
que vibra em jeito oblíquo
bancos de ferro de beiras namoradeiras
talvez as mãos suadas de não conhecer o destino
quando se viaja sem mapa, o céu é desatino
ora trovoada mostrador da alma danada
agora reparo que não trazia rosto nem mala
que o corpo de minutos e horas autónomas
acompanha o alívio dos sem ritmo
dos sem casa, dos sem página ou livro
cruzei-me com Kerouac
aflito de calos oníricos
de fumos que agravam a cegueira
a metáfora ensaiada despiu se na estrada
eventualmente..todos voltamos a casa