Da lente de um universo natural
o entardecer desce do pulpito expectante
filigrana de músculos felinos
cada gesto é um ror de anos
posto em liberdade, para o azedo de quem se carpiu
toda a espécie de ser no inesgotável mostruário
a mesma escória de um estátua de deus
batida contra a parede no rosto das chamas
voltamos à palavra como um rasgão na bruma
fiapos de diálogos de distância árida
por fim as mãos e os cabelos, a posição das pedras
frases correntes de costas voltadas
dir se ia que o céu nos apertava contra a boca
faminta do mundo
e uma só alma hipotacada no raso das casas
das antenas dos telhados transmissão
das traseiras de um qualquer prédio
agora desabitado
sempre a ruina como cenário de ontem
Lôbregos eram os passos de um morto
Boas noites, para quem se ata de fitas
um cão que uiva sem luar
talvez fosse sempre de noite, para cá ficar
uma das mulheres do velório canta
um fado visceral, chuviscam lágrimas
uma tinta que nos escorre do corpo para borrar o chão
uma gota de fel para acalmar a pele
e a desambição de um carrossel que já não gira
ou o baloiço que se quietou de ferrugem
Confessa a vida, barbaridade de vida
farta de conhaque, de fraque e malandrice
canta agora o fado dos tristes
para o temperamento de um artista sem tela
de um poeta sem musa
ou um corpo sem tusa
. ..estava debruçada no meu quarto de estrela
como musgo na parede..casa parede presídio
e o rumor cauteloso de uma corda vibrada
a morte passa, sem uma palavra
sem aflições...para a queda brusca de uma conversa íntima
quer o demónio saber do sol da meia noite
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