Momento lúcido manipulativo
o lago transbordante de interior
um pássaro levanta a asa babilónica
cozendo nuvens de origami
de inúteis linhas de pensamento
munido de fé e mito galvanizado
o corpo é eclipsado para dissociar-se em contágio
uma libertação parcial da luz
dos seus negros lóbulos predadores
a manhã nasce de uma vontade extrema
e epifânica da grande deusa
concedem-se os dons das copas ásperas
ziguezagues e piruetas mudas
um pássaro único e solitário
Há uma cena de procissão ou enterro difusa
talvez de procissão em que pirilampos são velas
e folhas secas mortalhas
aqui tudo decorre na simplicidade da morte
última,
e tudo o que vemos é de misteriosa histérica loucura
a nós não nos percebem as linhas dos pássaros
o sangue é recolhido pelos veios esotéricos
da relação espacial da consciência
demos os primeiros passos entrando na água
ao contrário dos outros paridos de placenta
assim da alma anfíbia se perdeu a amargura
de não ter pés, ou cascos ou raiz
os cães de caça farejam,
procuram ninhos de vento, composição pagã
a aritmética da serpente branca e o atributo da escama
dos esconderijos do ventríloquo esquerdo
este impulso de ser mágico,
mas o véu de ilusão é tosco, como a água parada e negra
e a beleza iniciática desse céu mais catatónico que nunca
é que nunca de lá saiu...
assim a linha da terra e dos lugares ancestrais
não dos vivos nem dos mortos
mas dos que em sua tese de presença onírica
rasgam o ventre, mergulham no céu e escavam a água
fizemos uma cova, bem pequenina e enterramos o sonho nesse dia
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