domingo, 29 de janeiro de 2023

A terra removida...

Momento lúcido manipulativo 
o lago transbordante de interior
um pássaro levanta a asa babilónica
cozendo nuvens de origami
de inúteis linhas de pensamento 
munido de fé e mito galvanizado 
o corpo é eclipsado para dissociar-se em contágio 
uma libertação parcial da luz
dos seus negros lóbulos predadores
a manhã nasce de uma vontade extrema
e epifânica da grande deusa
concedem-se os dons das copas ásperas 
ziguezagues e piruetas mudas
um pássaro único e solitário 
Há uma cena de procissão ou enterro difusa
talvez de procissão  em que pirilampos são velas 
e folhas secas mortalhas
aqui tudo decorre na simplicidade da morte
última,  
e tudo o que vemos é de misteriosa histérica loucura
a nós não nos percebem as linhas dos pássaros 
o sangue é recolhido pelos veios esotéricos
da relação espacial da consciência 
demos os primeiros passos entrando na água 
ao contrário dos outros paridos de placenta
assim da alma anfíbia se perdeu a amargura
de não ter pés, ou cascos ou raiz
os cães de caça farejam, 
procuram ninhos de vento, composição pagã
a aritmética da serpente branca e o atributo da escama
dos esconderijos do ventríloquo esquerdo 
este impulso de ser mágico, 
mas o véu de ilusão é tosco, como a água parada e negra
e a beleza iniciática desse céu mais catatónico que nunca

é que nunca de lá saiu...
assim a linha da terra e dos lugares ancestrais
não dos vivos nem dos mortos
mas dos que em sua tese de presença onírica 
rasgam o ventre, mergulham no céu e escavam a água 


fizemos uma cova, bem pequenina e enterramos o sonho nesse dia






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