nas costas de peixe, uma linha de prata
desenha no oceano o arrasto
sente os espíritos pentearem-lhe as escamas
o movimento rasteiro da criatura predadora
na transparência atravessar, neste estar e não estar
coados do suor do atrito
os céus vestem-se de negros corvos
o prenúncio da desesperação
o despertar das pontes do apoastro
e o cosmonauta uma criança nauseada
andamos às voltas na terra
tombados da imortalidade que se separa de nós
a parte vertical da viga cerebral
a alma escorrega felina cabendo em qualquer buraco
a pobreza de uma cabeça limpa
para as formas simples do horizonte
penteamos novelos de redes na berma do caminho
na contra luz somos figuras mitológicas do horror
da natureza do éter ou siderados na obsessão
do massacre desse basilar oceano
haverá um dia em que não há peixes no mar
nem sonhos para colher no sono
no traumatismo do nascimento
caído das ancas do mundo
vimos segredos depositados e o poema nasce fóssil
está deitado na praia, a claridade alaranjada nas pregas das rochas
vigilante visitante do mundo das gaivotas
deitado e amnésico das técnicas do planar
sonhava com répteis e dentes felinos
as suas mãos sonâmbulas escreviam na areia
a fase larvar do abismo
vezes e vezes sem conta, o mesmo poema
acarinha depois as mãos
acarinha a arritmia dos espaços
e o espasmo de um orgasmo
seguido de uma terrível sensação de solidão
pode levantar-se, lavar as mãos e o rosto
benzer-se, urinar, gritar
pode... mas não quer
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