nos alicerces do declínio das brumas
a endógena panorâmica do edifício
esse prado junto ao céu impressão universal
linhas retas de cimento com janelas de olhar
decompostos eruditos uns mortos outros vivos
e um estendal cordão umbilical de rasgo perverso
lemos na apreensão estética antes de tudo ser estrutura
antes do medo e do futuro no batismo do mundo
na arte do arrasto de figuras sem amarras
figuras que se atiram ao fosso porque sabem ter asas
para nascer tantas e quantas vezes na sedução gravitacional
na aproximação vital ao chão
nesse acolchoado de suspensão aérea ou resistência
a ideia ardente de chama que se devora e retorna
e no entretanto o embalo do xaile materno no corpo
uma ternura tão bela que quase leva ao choro
e sabemos que as lágrimas quando se soltam do rosto
ascendem para se juntar ao grosso atmosférico
assim quando aterramos o rosto já seco e limpo
e tal como o mar
essa agonia fetal que o mar entrega na areia
de serenidade pós parto
depois morno manso para se entregar ao vazio
no porto de agúrios soturnos
num vai e vem de redes metálicas a peneira dos dias
os pés caminham calejando-se as asas recolhem definham
os cabos que mordem linhas isco de cativo
como um pássaro de alma sem casulo
a tristeza fecunda exposta radiografada
fecunda e refeita na fúria das castrações cíclicas
e um grito que do silêncio se faz vivo
de parar-se esse pêndulo perpétuo
de orações que nos desfazem em lutos
são passos que deambulam espectrais
que percorrem os ângulos cantos desse campo santo
cativos da laboura sanguínea
epitáfio de ferro fundido em que nome nenhum
declara o indivíduo
o jejum da dor nos laços indissolúveis que a memória
drena da miséria
um espírito que se vai erguendo de arcadas de besta
de ventilação medíocre
de cicatrizes fendas de vago e vácuo
adiposo de abismo
se vai vergando e encolhendo de mais pequeno
se vai entregando lento à terra que depois se remove
se mistura se molda para recebê-lo de volta
entrego-me à escultura
dessas novas criaturas...