terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Na mão de todos Nós


Eu vi nascer um cravo. Cravado no cimento de um prédio, ciumento de outro tempo, arranquei-o e matei-o. E o gesto levou para longe o medo. Tranquilo de ser um segredo, continuei ao meu jeito. Subterrâneo, silencioso. Subcutâneo e cobarde. E o tempo foi mais teimoso. Vigilante da Liberdade. Fui eu quem o plantou para esse propósito? E alimentou e preparou, como um filho? Agora recordo. Contei-lhe histórias, reguei-o com memórias e adubei-o com coragem. Fiz dele a voz da revolução. O orgulho de uma geração. E depois..Agora recordo. O cimento. Tinha no pensamento dar-lhe o eterno. Monumento para que ninguém esquecesse esse tempo. Esse querer maternal que à velocidade de um gesto o matou. Por ele passaram dias distraídos. Pisado, usado e festejado sem afecto. Agora tudo faz sentido. Arranquei-o e replantei-o. E do meu sopro espero que cada semente chegue ao outro. Agora vejo nascerem irmãos. Na beira das estradas, nos jardins e até nas próprias estátuas. Vivos no pensamento de todos nós. Vivos na mão de todos Nós. 

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