O sol bate-me do lado esquerdo do rosto. Tudo é verde e sereno. Restam apenas alguns minutos para que fique mergulhado em sombras e nevoeiros de Inverno. Sinto-me mais perto da mãe. Ao longe os carros parecem ondas de marés ruidosas. O vento é rente ao chão. As folhas queixam-se aos melros e eles queixam-se ás cigarras adormecidas. E eu movimento a mesa onde escrevo para apanhar os últimos raios quentes de vida. São Oliveiras, tal como as via quando era criança. No alto da colina em frente à casa e corria para apanhar o por do sol tão vermelho e tão quente do Alentejo. Cheguei tarde hoje. Sinto frio e por isso não consigo que as minhas memórias me transportem para lado nenhum senão para casa. No tempo de um cigarro abro bem os meus sentidos e aguardo. Um último momento só para nós, hoje. A marmelada, as nozes, o azeite, o sapo, o banho gelado do tanque, o chinelo da avó, o presente do aniversário do primo, o pai que dorme na sala da lareira, os bolos da D. não me lembro do nome, as estrelas e os grilos e o quarto das três camas. Eu tinha uns calções vermelhos e tu tinhas uma bicicleta amarela.
Não consigo, o frio traz-me sempre aqui e longe fica tudo o que me levava até ti. Aperto as mãos uma na outra, talvez mais para ali ainda esteja quente. Não. Amanhã então marcamos encontro logo pela manhã. E teremos o dia todo para estar juntas.
Sem comentários:
Enviar um comentário