sexta-feira, 20 de janeiro de 2017
o ó dor da terra
vejo reflexos na escuridão das águas
sombras na brancura das páginas
clarões vagueando em torno dos olhos
copas eriçadas pela nudez da noite
nós imóveis atravessando nuvens verticais
a intensa vaga do pensamento
emergindo de um amanhã carregado
porque amanhã serão precisos arados celestiais
a chuva recuada ao céu desbotado
atirar a semente ao chão
depois da profunda desolação de a reter no coração
fosse o tempo se encolhendo desses nós
para a efemeridade de todo o adeus
para o perpetuar do odor a dor
esperam as gentes dos campos
pelo mugir das tripas do mundo
do sangrar lento e atento do desalento
esperam-nos campos de silêncio
a terra por revirar do avesso
incompleta, mãe de nada
só os seres não vivos continuam a vigília
para o oscilar deprimido da noite para o dia
a respiração de arrasto das criaturas frias
do agarrar sem atar da superfície
a terra fugindo dos pés sôfrega de passos
desconhecendo o nome dos seus pecados
pronta para a vida, berço da morte acolhida
a terra inteira contida num só grão
o mistério vagaroso dos corpos geminados
quando o tempo pára, entrega-se à escuridão
vejo um estar de profunda invasão sem maneio
quando todos violámos o nosso chão
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