terça-feira, 7 de fevereiro de 2017
para dizer a deus
em toda a terra onde me recusasse a pisar
da polaridade do mundo palpável
o diálogo dos nossos olhos
campos fundamentais do sonho
para a desmembração do dia sólido
e ampliações articuladas da noite
como posso dizer que as palavras são aparições
de ninguém vivo
relatos da criação a que sobrevivo
que a imagem desmedida se afunda
no triunfo pantanoso da escuridão do espírito
e da separação límpida das lágrimas
da aspereza do brotar da espécie viva
debaixo dos céus a poesia
e então o dia é curto e a noite silêncio
para o inimitável ilimitado
participar do ser
mas eu não posso senão a partida
que está sempre a caminho de qualquer hora
que me faz sentir mais longe
abro a boca
uma pérola ardente na língua
como flores desabrochando da saliva
pedaços da eternidade sem som
que a minha voz no alívio do silêncio
silencia
o rumor da alma fora da concha
abrir um buraco na terra
e cuspi-la
que esse quase que me foi sempre metade
cumpre-se de céus de acaso
e dentro do peito sempre bravo
capto a doçura do adeus
obstinados os meus pés perdem-se
e eu perco-me com eles à procura de entretê-los
dos ecos que partem deste peito
com o ritual de poder senti-lo descarnado
não estejas triste meu amor
é desse agora que tudo faz parte
quero que saibas que me hás-de encontrar
para instantes revisitados
nós que temos os gestos lassos e as mãos pálidas
pelo reflexo da brancura das páginas
para a vida que começa agora
em toda a terra onde te recusas a pisar
tudo farsas do mundo original
são os horizontes que me são estranhos
para sentir a absolvição de qualquer desígnio
que eu já procurei e não encontrei
mas não estejas triste meu amor
as palavras são egoísmo em cativeiro
quero dizer que mesmo antes de começar a bater
o meu coração já sabia ler
mas o relógio marca sempre uma hora a menos
com a precisão de um batimento de exclusão
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