quinta-feira, 2 de novembro de 2017

laudare em suspensão



sento-me, no topo do mundo sereno
as nuvens bordadeiras dos textos da fundação
respiro, sou pura funda de cordas vocais
atiro-me sem corpo contra os muros anfíbios
para a domesticação de tudo nocivo invertebrado
assumem-se formas imanentes
elementos supremos do contacto com a alma
mais próximo da representação sensível da alma
chegam-me relatos circulatórios
para o acto mais puro
o que nos move sem se mover
há em nós a atracção do fim
das anulações abstractas
dos trabalhos materiais dos sonhos inacabados
uma pluralidade de olhar
que só se encontra nos terraços metafísicos
e depois a decadência dos voos
a prima substância para regressar à terra
actualizam-se os pássaros no céu
as forças potentes das suas asas
para o acto de vir a ser ponte de céu
e península entre peitos desabitados

afago em nós o sangrar da terra
o óbulo nódulo para o limpiar dos clarões
tudo o que carrego de negro que nos absorve
tudo o que sou de desespero
há o dissipar das ravinas
o encadear das névoas
o conforto da rigidez das trevas
de tudo ser tão forte que se anula
e depois o contacto das pálpebras
o ziguezaguear dos voos inéditos
rasgar o céu pela primeira vez
porque tudo é uma estreia
e sucumbir ao peso
do entresonho da interrupção da morte
madrugando na futilidade da paisagem
ter os ossos articulados à carne
na ruína das ilusões atiradas às fornalhas
as paredes de azul celestino retratos ou espelhos
a luz que reflete a água dos teus beijos
para a sanidade possível
e o paladar tropeça na incursão da cabeça
a poesia sabe a láudano e incoerência
para tudo o que nos cobre de lonjura

há plenitude nos ângulos das aves
as mãos albas para a sombra da cegueira
porque para lá destes terraços
somos o desfiar das vagas, descampados
e o coração pela boca silabando
tudo em suspenso, tudo em suspenso

assume-se a distonia febril
o sonho mecânico interrompido
e bater com as costas no chão
o quebrar de estátuas de sal
para o difícil rasto das palavras
para o desaprender do olhar do céu
há um eco apagado convulso ainda
de se manifestar no atingir do azul
e anjos descalços ainda por vir

tudo em suspenso, tudo em suspenso
sinto o corpo suspenso por cabos de aço
fibras elásticas de aproximação e afastamento
quando me tento, ser, em movimento



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