sexta-feira, 22 de junho de 2018

do estuário do pensamento



a um passo de fé
as pálpebras soltas asas irrequietas
do marfim estátua a pomba à superfície
as horas do vício batidas ao céu flamingo
vulnerável borboleta residente no peito
das salinas da tristeza vieste
emergente da insónia helénica
colónias nidificadas no passado
quente chuvoso o teu corpo holograma
gineceu de uma casa lua eclipsada
o barómetro do peso atmosférico subindo
nossos corpos seios de sonho desencontrado
a sombra descolada dos pés
o sangue trágico mortal encerrado de pandora
a engrenagem épica despojada de paredes de cifras
no epicentro das cidades templos
tudo deixado em segredo para mais tarde
para o fixador de momentos paradoxal
nas areias brancas nutridas de rio
a transparência os ciclos as marés
a biomassa ao abrigo das nossas palmas
ser atravessado por um centauro decapitado
de cascos pesados
quem deixamos para trás
os búzios imaginados da medusa
agulhas abrindo poros nos sentidos
lavrando castelos na areia túneis pontes de água
a ocupação das margens pelas falhas lagunares
é como se caminhassemos sem chão
ou o chão a pele tórrida destruindo a pele dos pés
por isso nos ardemos
deixamos a paisagem do estuário de sentinela
o vidro fosco de uma janela para nenhures
tantas vezes me encontro por lá só
mas não sentindo solidão alguma
respirar o grão desmaiado da tela
uma invasão de onda fresca
o sal em água doce fundindo-me
para ser o que sempre fui
rio e mar e mar e rio e mar e rio








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