quinta-feira, 13 de setembro de 2018
materna loba
na linha mais ténue
a manjedoura mão de um vulto
que por aqui serve sem doma
caminhando de andas em terras de silêncio
levantando dos tempos de um parto
onde havia prescrito um inferno ardido
sinto na cabeça os ramos oxidados
das vigas das fábricas que deixei para trás
os afundares do oculto que aqui dormem
torturado por não pertencer
bodes velhos ressuscitados
das povoações em ruínas dos vales
a cor escura da armadura dos templos
musgos viscosos tentaculares
no timbre que se esveia por entre o folhear
abro a palma
para acolher o outono do pensamento
e o arauto de novos tempos
que carecem dos sinais da passagem
eu sou um monumento de silêncio
as raízes apodrecendo para me libertar
a geada a chegar
as últimas folhas de seiva lírica
e comovo me com a beleza do coro
esse berrado desafinado dos outros
envolto num halo histérico
que só eu posso fundir em reflexos mágicos
vomito essa pneumonia aberrante babilónica
os pulmões escancarados ao fervor do desabafo
para acolher a noite fria de rachar
o frio cortante de me desintegrar
vivemos nesta hora de fogo sem calor
sôfregos de labaredas de ramos sem faia
a linha mais ténue e o fumo espesso
em que nos convertemos
salvo as crianças de dentro
gritam em coro urros de prazer
para estrumar a terra em pleno inverno
de fantasia e ludos de inocência
compreendo agora as ânsias de querer envelhecer
lido me como animal máquina
e cavalos em marcha para o preparar das coisas
que se entregam aos ciclos
de pés de veludo e impulso
devora me se me encontrares doente
rasga me a carne ao teu alimento
deita me os olhos de cão esfaimado
procura me o osso mais afiado
estou como febre para o imaginário
e o ar completamente esgotado
e desses olhos sentinela
a terra revestindo-se da pele materna loba
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