segunda-feira, 5 de novembro de 2018
na orla interior
as estrelas semeadas dentro da cabeça
alguém retrata da lua do aconchego de uma cratera
alguém sentado na lua inundado de toda a solidão
depois do abandono da nave o pulso quase morto
esse coração piloto testemunha a distância
uma caixa-forte para proteger o universo
vigilante dormitando deus sentado
aquela mancha um mar profundo
a longitude de águas congeladas
camadas de poeiras de rochas dos hemisférios cerebrais
brilhando na escuridão como pequena estrela
plataforma de homens vivos
uma grande queda
ecos de radar sombras que trepam o buraco
plantadas à beira de um penhasco ao nada
nossos momentos lá em baixo
saídos da escotilha da memória
catapultados por vigas mestras nas costas
contra as correias da dor vaga e impessoal
das noites que continuam a abalar o mundo
e o grande acidente do amor
inspiro o odor salino da luz na sua forma química
uma praia de inverno e seres agoniados esvoaçantes
as cavernas seladas pelas ondas de rebentamento
e os fantasmas no topo do farol giratório
a súbita discussão interior da mutação dos peixes
um mundo sem paredes na cúpula da lua
onde a minha voz quer subir a ravina
nesse laboratório de silêncios
uma célula num frasco morreu do desmoronamento
a alma desprendida do corpo regressa ao universo
para vaguear atipicamente no meio de nós
as mãos brancas os olhos escuros
instrumentos de vidro
o sangue pulsante aos ouvidos
transpirar o fogo cerebral
subir a ravina correndo astral
cambiante dos restos da humanidade opressiva
animal esventrado atirado ao espaço
correr para cair de cansaço
o corpo em estoira a mente cessa
e finalmente sentir a face da cristalização
do recongelamento do gelo
o estalar dos estratos rochosos os estratos do gesso
o odor específico da batalha mortal
mesmo para um homem morto
mesmo tarde demais para um homem morto
e o sentir do cérebro chicoteado
imagino que depois do enterro as ideias continuam
vejo-me sentado na areia diante do mar imenso
acho que nunca me sentei sozinho diante do mar imenso
nunca me encarei diante desse mistério
sempre a reclamei mas nunca de facto senti a solidão
e o azul cristalino da mortalha
ou o buraco imenso a falha de alelomorfos e isomorfos
e recessivos letais e todos os criptogramas
de um homem inadaptado
ou encerrado no labirinto da alma
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