terça-feira, 15 de janeiro de 2019

a noite mais longa


o mar de arrasto
e o palpitar do anoitecer ancorado
viajo descapotável na asfixia
a nu a fantasia de um nevoeiro salino
abrindo paisagem de arbitrário
na vassoura antigravítica
na bigorna do ofício aéreo
para um mapa mundo inquieto
desenho de rasgo na plataforma sem estações
a planura dos assobios
tudo em mim ecos de corpo celular melancólico
recolha de imagens que pesadamente me servem
ou o peso de um pássaro sem asas
trago os olhos cansados na maioria dos tempos
e o arranhar da letra rude ou da raiva balística
tudo animado de animal ferido
a mão peneirante infernal
o abismo solene do teu olhar
são pedaços de alma em vénia
para uma alcateia de estrelas mansas
vejo a sombra dos telhados em escama
a mácula funda abissal dos homens
ou a fecunda paz das searas
como o imóvel vagar das rugas no rosto
aos espelhos dos lagos das fontes lá debaixo
diz que fui um ângulo inesperado
exasperado de aflições mundanas
o calvário foi o ventre das mães in vitro
agora sombras aninhadas nas paredes
o mundo florido de raiz débil
o mundo febril de lábios gretados
o espaço vítreo do pensamento derrotado
as pálpebras abertas ao espaço

fica a mais fina das flores colhida lá no alto
secando entre as páginas do caderno

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