sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019
esse trémulo pulso
a luz que pisca na intermitência
esparsa depois numa imanência boreal
a escada de corda por onde trepa a alma
e a primeira carruagem do embate:
agora rasando o horizonte próximo do frio
cabeças de nós dando um salto ao infinito
e o sol poente ardendo-me nas mãos
lume para cozinhar o espírito de medo
senta-te a meu lado e contempla o vácuo
não há estradas nem pontes nesta ilha
ou animais grandes e pequenos
a escuridão desafiando bancos de areia
que o mar engole e regurgita
as cavidades do tempo ecoando
cantilenas de choro e birra
as coisas torcidas agora de longe
num desleixo doentio
para a claridade intermitente de um sol ardente
àquela hora da noite
brotam-lhe dos olhos cristais
o rosto infantil do lamento
e uma bacia inteira onde aportam ruídos
que os homens quiseram esquecidos
são os pescoços de palmeiras e as cabeleiras
cometas rastos de estrelas
e a areia pálida movediça destapando
as vigas de uma estrutura insustentável
despir da terra as suas vestes
um prédio em abandono de construção
placas acimentadas deixando a nu os seus dedos
o mundo assente numa coluna vertebral
desorbitado no silêncio do espaço
depois as sílabas cruas
num esforço de arrimar as ruínas
e empurrar ao esquecimento as memórias
trepando por essa escada de corda
nesse lugar perdido de mim
um terraço de gritos e euforia
dos patamares da visão nocturna
ela contempla a milhas de distância
os campos livres as fogueiras autónomas
porque na simplicidade dos desertos
numa tangente de gente o vento
um vulto que cai nos seus braços
um peito de pára quedas
e no olhar o próprio rasgão das estrelas
a luz que pisca nas intermitências
traz e leva a pulsação da terra
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