domingo, 19 de janeiro de 2020

Da cor da carne



São bosques miniaturas de espectro a nu
um bonsai de figuras imaginárias
para combater a saudade
depois as mãos puxando pelos fios do amor
para situar o sonho no dilúvio da história
o musgo veludo banhado a sangue do demónio
e uma teia mininalista que ainda nos rege
abaixo das raízes que romperam o vaso
o pequeno exercício de respiração fora de guelras
para dar de comer a uma carpa longa alaranjada e viscosa
o lago facial e metálico
cortado ao meio pelo espelho céu
ouvi dizer que há pássaros que não têm céu
e a lua cai me no regaço com o peso da prata
de noite lê se o livro sagrado com o respeito das mãos lavadas
e o silêncio da palavra para um deus interno
as pequenas portas dos troncos abrem-se
como minúsculos furos no luto de um retrato
que se alastra como uma segunda razão para a existência
a cruz como qualquer outro talismã para o regresso
pois basta um simples salto para ficar sem tecto
as palavras ligeiras agora com instrução de cavalaria
com a largueza de calhas que sobem escadas e teias qual as paredes de um poço seco
quantas flores para um isolamento cósmico
nenufares ilhas e toda uma costa meridional até ao extremos
As mãos de gigante podam criam baloiço para os dedos
a alma é uma espada cortante dos dois gumes
carne da sua carne calhau dos seus ossos
e a face do globo o vitral ovo em frente ao altar
no desenho da grande janela de uma sala capítulo
onde nos acolhemos para as dormências da terra
Os gnomos dançam na fogueira de um cigarro
a mais sublime movimentação do mundo
uma incarnação para a fundição de uma criança ecossistema com a pequenez e o cuidado de um bonsai de esperanças

Vejo a ordem detalhada com que brincam estes seres
as giras voltas estonteantes como que se baralham
para caírem tontas de bebedeira
tal flocos de neve na lareira
e reduzo me a pouco, muito pouco de pequeno
para caber lá dentro






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