quarta-feira, 18 de novembro de 2020

na boca do estômago

 

O tempo eternizando na película do elemento
notas arrumadas de pó ao toque engavetado
no obsoletismo a necessidade de transgredirmos
emprestando-se a uma objectiva a alma
pixelizada a cicatriz parecendo curada
e vem-nos até o odor das plantas e dos passos
o bosque capturado no Outono mais esbatido
-Se pudesses ficar aqui comigo, ficarias de facto?
retido no magnético do exacto momento
esse mesmo instante preciso que não ficou
que por ali deambula incrédulo 
creio que nessas voltas ou nesses passeios exóticos
tudo o que se pode chamar de supremo sacro feliz
do ponto de vista óptico: o espanto

e porque do fingimento de que não partimos nunca
essa ópera do malandro trágico soturna 
porque afinal não habitava ninguém nessa urna
é como se sepultassemos uma campa de oxigénio
porque nas alturas tudo se propaga sem gravidade
talvez essas asas sejam de chumbo ou xisto
para nos derrubar de loucura e destroços 
lança chamas de flashes para nos ficarem os ossos 
e em nós peito e bomba de afecto 
...apenas a saudade de intelecto
como começo lento de uma bebedeira de vento
no radiador de um veículo arfante e ambulante
que não permite o movimento ao volante
-recordas-te do homem de palha que espantava medos?
ou da linha dos caminhos de ferro que ardia de espíritos
o grito no berço do animal de espinhos
e o sabor da minha boca que se dissolvia em ácidos
pois a vida é filet mignon com champagne 
e nós comemos o pão que a secura do silêncio amassou
no grande desejo que um dia possa dizê-lo: mais não
que possa sentir ter chegado ao fim da linha 
de um poema de satisfação





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