Não sabia mais o que plantar na noite
as luzes intermitentes ludos de outro mundo
em cada folha caduca uma certeza perdida
um cavalo de pé anfitrião da neblina
olhos brancos, da pele já esqueleto amorfo
mãos que abrem em fole notas desconcertantes
espiam bichos o ser colonial do tempo
aguardam a rotatividade dos sóis
imóveis nos prados da alma
imagine no delírio ad eterno o revirar do feno
o espírito sem doença pôde trotar veloz
essa estrada que não se avista é ludo
objetos bússola agora inúteis
tinha uma perna mais curta
um olho mais aberto
rasgava o evangelho para atear o lume
noite fria de credos, sem insectos
o pensamento cresce reflexo e acanhado
talvez mude atraído pelo estranho que chega
-sou a imanência que deixou lá atrás..e o reencontro
apagarão os nossos passos da memória
porque com ela chegam batalhões de outros
do fundo de si mesmo, fantasmagórico
Não tinha moedas no bolso
nem fé de outros patamares
apenas o labirinto obscuro da morfina
Berrou barítono de medo
balbuciou o ser e o nada na contração
Em posição fetal, sentiu leite materno na boca
o perfume do corpo quente sem mais ventre
E a expansão...o ventre é tudo, o ventre é mundo
assim lhe teci a manta e o gesto sublime do afago
O seu respirar frágil cessou
e virá do terceiro mundo como semi deus
bobo, mais louco, que renasça como poeta
não julgo mais esse sonho..
Há uma violência pagã na aceitação
a barbárie do abandono do peso
a forma vazia com que me olhas sem desespero
e eu deste lado como milagre frágil do tempo
E mesmo que nada aja
engana-me com esse encanto..numa brisa
no desviar do pavio, num retotno de eclipse,
ou simples estrela cadente
Às vezes demoro-me na janela do quarto
nas falhas do horizonte
lá onde as formas se entornam e desmaiam
no arrebatamento da teatralidade do sonho
Vejo o teu aceno...e sorriso e olhar astuto
Por agora..nada mais te posso dizer..
depois anjo da vingança te viverei
Viver é sempre uma vingança não é?
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