domingo, 21 de julho de 2024

Cena 1

 Tinha um ninho debaixo da cama
um violino e ramos de oliveira 
os braços em velcro sem remar
a chama na cabeceira sem oscilar
na caixa guarda sonhos e no pote 
um cruzamento de elixir com porção 
dos olhos fabricação de viscosos entes
a miséria de silêncio bate no teto e volta
todo um oceano sem revolta de água morta 
tem um brinquedo ao lado, raiz de inverno
triste se brinca só pela noite densa
no suspiro das rachas das paredes 
brotar dos lábios irmãos um cigarro
das arcadas das janelas de outros fados
Moro na beira de um cinema cemitério 
uma tela veneno arquétipo 
ainda se quedam os cabelos no pente
parapente de esvoassamento era o seu fio
absoluto dourado relâmpago 
para o pensamento sempre fluvial
detenho me ainda nas impressões digitais 
no pescoço, no seio, nos cotovelos
lexical manto o colchão ondulando 
detenho-me de traduções vãs
as calças ainda postas e no bolso uma resposta
uma chave
quem sabe se estou em casa...
se numa barca rumo a outra margem









terça-feira, 16 de julho de 2024

Figuras do Barro


a respiração melancólica desfaz no óleo 
murmúrios de cascas 
faz escuro, engolidos pela sombra sentinela
figuras dos sem nome
pelas mandíbulas de almas apartadas despidos
de um vai e vem de nadas homens furtivos
aonde uma casa é lugar de trapos e lixo
tetos de cabeças de árvore sem orvalhos 
uma existência de madonas sem espelho
nascidos de uma moeda por acidente sem troca
em  quartos de chapa
o mar de chumbo marginal e céu monótono
estavam brancos os pés por correr, as massas moles
o globo repetidamente enfadado de voltas
e apenas estrelas de ilusão empoeirada
o retrato
avista-se uma perna de manequim no telhado
uma data na porta gradeada de floreados
roubada de outras épocas outras paredes
um pequeno pássaro que penetra no veludo vermelho
uma voz de bossa nova, um abanar de anca
assim as portas fechadas 
como uma carta por abrir sem vontade de ler
erguem-se muros, fecham-se os olhos 
ou que em vez de cativas fossem escoadas pelo ralo 
vidas que não valem o mesmo
salta, trepa, constrói um campo de futebol da terra
pedras que em pés descalços são minas
banhos de barril em sabão azul
calçam-se os sapatos da missa, as solas omissas
e canta-se em cada esquina, vozes unidas 
há uma cruz invertida ou um mundo aqui dentro ao contrário
nascem deformados, sem dentes e sem vocábulos completos
para não ir além desses tetos
brinca-se em cavalos de ferro, veículos desmantelados 
livres para seguir ao volante desertos 
bancos de areia e mais areias de aterro espacial

os verdadeiros cavaleiros do apocalipse
vieram danados...desnutridos e cansados 


quando chove, apaga a luz