domingo, 21 de julho de 2024

Cena 1

 Tinha um ninho debaixo da cama
um violino e ramos de oliveira 
os braços em velcro sem remar
a chama na cabeceira sem oscilar
na caixa guarda sonhos e no pote 
um cruzamento de elixir com porção 
dos olhos fabricação de viscosos entes
a miséria de silêncio bate no teto e volta
todo um oceano sem revolta de água morta 
tem um brinquedo ao lado, raiz de inverno
triste se brinca só pela noite densa
no suspiro das rachas das paredes 
brotar dos lábios irmãos um cigarro
das arcadas das janelas de outros fados
Moro na beira de um cinema cemitério 
uma tela veneno arquétipo 
ainda se quedam os cabelos no pente
parapente de esvoassamento era o seu fio
absoluto dourado relâmpago 
para o pensamento sempre fluvial
detenho me ainda nas impressões digitais 
no pescoço, no seio, nos cotovelos
lexical manto o colchão ondulando 
detenho-me de traduções vãs
as calças ainda postas e no bolso uma resposta
uma chave
quem sabe se estou em casa...
se numa barca rumo a outra margem









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