Tu és o meu parque infantil. O meu baloiço e o meu escorrega. O meu bebedouro e o meu cavalo. Já chega. De porta fechada dizia: não é mais permitida a entrada! Rapariga tens formigas no bolo e eu sou guloso! Agita mais um pouco. Gosto do leite bem misturado com o chocolate. Bato com os dedos na mesa, e os meus pés querem dançar. Roda esse vestido. Gasta a sola do sapato. Vamos até à aranha. Massaja a barriga até às entranhas. Mete-me o dedo no umbigo e salta comigo. Olha, alguém deixou uma carta dentro do lago. Embrulhada num saco de plástico. Anda ajuda-me. Traz uma cana. Deixa-me ler, o que diz?
Quem procura no fundo pelo sentido do absurdo tem obrigação de devolver a resposta ao mundo.
Olhamos um para o outro e fugimos. Para lados opostos. Esconde esconde. Corre corre, que eu te apanho. Mas algures a meio do caminho perdemos a carta e esquecemos o recado. E os anos passaram e quando lá voltamos dizia: não é mais permitida a entrada! E tudo passou a correr. Não como escorrega, não como baloiço, não como bolo guloso. Escadas, só escadas. Degraus e lances de chances perdidas. Numa corrida para chegar ao topo. Para pisar o sonho e deitar fora o prémio. Tu foste o meu parque infantil. Hoje eu penso que nunca conheci outro. Mas não tenho que me sentir triste com isso. Tenho a certeza de que alguém encontrou a carta e deu continuidade à resposta. Eu terei sempre as nossas memórias e o bolo, bem esse, já nem as formigas lhe pegam mas aposto que tu continuas guloso!
Estava a pensar em dar um final diferente a esta história mas francamente, penso que não sei a resposta e talvez nem a pergunta ela própria me faça sentido. Porque nada disto é absurdo. Se nós perdemos a carta foi porque não merecíamos a pergunta.
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