quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

uma dança a duas vozes:

de cada vez que toca o telefone
orgasmo encanto magnético
como estás tu? estás aí ao fundo?
estou tão perto que te escuto em eco
fecha os olhos, somos apenas ondas
e que contas?
(apetecia num quarto escuro)
                                             








quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

E estavamos encostados ao poste
servindo de encosto e suporte
como se fosse ele cair
um de cada lado
não fosse inclinar-se
e de costas um ao outro
olhamos o céu

Nesse momento passou
era um cego que além tropeçou
e riu-se: Olha que dois!
Tresandam a depois...





Aiéàdo

Tenho me caiado
andado em bicos dos pés
escorregando de telhados
misturado pela ralé
de pêlo eriçado
apregoando por aí uma fé
a modos que disfarçado
sem saber ao certo que é

E é a dô
qué caipira mestiça
e quando ela passa
menina e moça
há qualquer coisa
que se me apaga
será qué amô?

Um risco de nafta
um copo de grappa
lapa, lapela, capela
meu senhô sentinela
será que já chega?

É essa porra
de letra foleira
essa peida swingueira

Então:
atravessas ou não?
Tou cheio de tesão













terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Fisga-Te

Usa as tuas palavras
Catapulta.Te nelas
contra a parede
atira te da janela
de uma ponte
a um poço
ao precipício
a tua convicção
em plena explosão
Atira-as de Ti
Mas usa-as!

marioneta de mariquices
de medos e quezilices
criancices e medíocres disses

Diz o que realmente sentes
o que pensas o que queres
puxando bem atrás projecção
esmigalha-as se for preciso
com o punho decidido
com intuito com domínio
extermínio
mas assim..
como se fosses pequeno
como se tivesses medo
me atreveria a dizê-lo:
mais valia seres
silêncio
no verdadeiro sentido
de um dicionário
vazio

O assobio

Está muito frio não está?
Só pela forma como sopra o vento
seria capaz de adivinhar para que planície
fugiram das minhas mãos
que tontice!
Tantos nãos que partem
E talvez..tudo seja mesmo assim
sem começo nem fim
porque de tanto correr atrás
é a própria ideia que se desfaz

Então
sentou-se na paragem do autocarro
e nem sabe se foi da chuva ou do choro
que a tinta escorreu pelo passeio

numa forma de único devaneio

a pouco e pouco
se descobriu num meio
onde tudo ainda está provisório

Só lhe faltava um título
e o rapaz aproximou-se
com um mapa de trilhos
-Sabes onde fica o purgatório?
Ou porque os seus sapatos eram feios
ou os seus dedos pequenos
e a sua capa estava rasgada
a madrugada chegou depressa
E sem aguardar pela resposta
partiu deixando apenas

O assobio



domingo, 23 de fevereiro de 2014

partes aos poucos, caindo no espaço de meses, dias, horas
são teus ossos que chegam ao chão e teu sono que te abandona
o medo de adormecer eterna ou uma outra ideia que não sossega

e de cada vez que te vejo partir não sei como me despedir
não sei se te abrace ou se te faça rir
se chore, se grite ou se ignore
não sei porque não sou capaz
de te remediar, de te recuperar

será que levas contigo toda a amargura
para um abrigo onde a tua história
se dilua e se esqueça
será que deixas comigo uma herança
que repetidamente trágica aconteça

Vejo-te serena a olhares para dentro

pergunto-me em que pensas, de que tens medo
pergunto-me se me contarás algum segredo
ou se estarei lá no ultimo momento

para onde vais? depois de ti como será?
e o que fica entre nós, já está na hora?
é cedo ainda
quero que conheças mais da minha vida
que deixes que me apresente como a tua

sempre neta querida


quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Poetas do Povo - I


Na próxima segunda feira (24-02-2014:22h) no POVO, festa de aniversário e lançamento do livro colectânea de poemas 'POETAS DO POVO - ANO I'

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Redes de Bravais ou Bravios?

Teoria da Revolução Permanente:

-Estou estupefacta a olhar para um camelo
Quero porque quero encontrar o fim
a importância menor do proletariado
que vende horas de vida
a troco de tecto e comida
e tudo o resto são...ditaduras?
A premissa de toda a pétala de jasmim
é que inevitavelmente levitando, cai
E que a força e a exactidão
são como serradura de exfoliação
de uma alma condenada ao chão

A solução destas contradições
não pode ser tão obviamente
a morte! calculada e consciente
na hora que termina a gente

Vamos jogar ao monopólio
à concentração industrial
na batota: a alavanca global
oligarquia: cáfila extinta

Mais e mais triologias de animais
que nasceram de geometrias banais
Mais do que selvagens: Matem: Nos
Mas seremos Bravos até ao último
Estado

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Chovem profecias



Soltando uma gargalhada:
Maldita cegueira!
A ironia estava à espreita

De saltos, descendo asfaltos
o nevoeiro cobre todo o caminho,
graças a Deus desconhecido

onde está o Oráculo?
No vómito de todas as palavras
Lidas, silenciosas, comedidas

Se vale a pena
esta ponte de mediocrizado
elo ao mundo materializado?

E no verdete traiçoeiro
escorregou de traseiro
a jacto ladeira a baixo

A precisar de ser inspeccionado
Ela diz para o namorado:
vê lá se está inteiro!








sábado, 8 de fevereiro de 2014

Boneca de Trapos

Serão gaivotas que de madrugada assombram os telhados?
Depois de uma noite de tempestade...boneca de trapos
iluminando um homem um recuerdo em seu nome
e em nome de todos aqueles que terão como criados
guarda chuvas para que o coração não se sinta entediado

para poder copia-lo
qualquer trágico trovão maltratando Íon
recebendo, dando, completamente alheado
à máquina, pena de ganso,
marchando aqui e além
uma velha canção de Belém

Trata-se de um velho baú
uma ilha onde a cabeça de Orfeu
é feita de pau

Feita de pequenos restos
saia rodada, lábios vermelhos
e o enchimento
foi ficando
um prolongamento
do tempo que apenas por dentro
é o mesmo







terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Candyman

Comeu quatro quartos de bom bocado
assim como assim, estava esfomeado
Lá para o final do mundo dizem que
já não haverá criancinhas, um abuso
o preço de tudo, é a direito por favor
detesto cabelo ao lado, banco de horas
saco de compras fazes de contas
e no registo o apelido se quer marido
mercado negro e encomendo, medo
faça com jeito depois se vê, quê?
se não entendo de japonês e de sakés
e somos todos animés, e tu não vês
que a saudade é um cliché, bebé!
Ou será da mosca tsé tsé, ai Zé
não vás ao mar comó António
se tivesses apenas um neurónio
contrairias matrimónio ego proposto
como bicho solitário de guarda no seu
posto, diz que faleceu de desgosto
mas eu aposto que estava de encosto
na vizinha na ladainha da poesia
daquela tipo revista Maria na picardia
e afinal quando acordou já era dia
e na pastelaria já só havia côdea rija





Estava a regar as plantas à janela
num dia de calamidade tempestosa
e na chaleira, uma coisa pastosa
assobiava há já meia hora...

E passa ele de bicicleta...
-Tenho homem em casa!
-Não tem mal - seguiu rindo.

Observou-o contornar a esquina
desaparecendo a melodia da gaita
-desde que começaram a ir à lua
que é uma desgraça! Já não vem
chuva


Tenho
uma dor aqui no peito
um remoinho apertando
que me está chateando
desde o início da tarde

como está preso este verso...
é por isso que me dói lá dentro?
Agitado, embrulhado, amassado
Que maçada de quadra embaçada!

E uma irritação de ódio
é o gato que não sossega
e a cadela que chora
e é tudo uma merda!







segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Ela

Ela faz-me reparar nos contornos da lua
Ela faz-me correr de joelhos tortos pela rua
Ela até os cornos me mete com doçura

Ela é a viagem e a única forma de ancoragem
Ela é a fome e a barriga cheia de miragem
Ela é a sorte e a fortuna de ser pobre

Ela é o ponto e a linha que o cose
Ela é o simples e o extremo da catarse
Ela é o texto e o resumo de uma frase

Ela é o encontro e o adeus de uma tarde
Ela é o sonho quando desperta a claridade
Ela é o todo e o conforto de uma parte

Ela é a voz e o inferno do silêncio
Ela é o fim e o final sempre em aberto
Ela é o rito e o hábito, o grito e o riso

Ela é o aviso e o impulso, e o corte no pulso
Ela É e será, e tudo foi só um pouco
Absurdo, porco ou nulo