quinta-feira, 18 de agosto de 2016

runas brancas



tamborilando garras que me conhecem o corpo
como as garrafas que são lançadas
que o mar traz de volta
a minha cabeça presa num vácuo de existência
porque me querem prender o pensamento
e que o corpo apodreça
sobre as andas do destino
alegóricas batalhas de esperança
porque digo que nada me derruba
mas nada me deixa sair da luta
da exibição da fúria
dos gritos ancestrais das grutas
as pálpebras da escuridão
que nem descanso dão
e os laços brutais dos moluscos
agarrados à alma já conchas mortas
contra a rebentação tudo se despenhou
há um fio de prumo que me corta o punho
abandono o sangue na areia
que aos poucos se cora de vermelha
à vacuidade de tudo
do engodo das promessas gustativas da vida
nunca provei senão fantasia
como a aura dos cisnes
dos espinhos das plumas brancas
a espuma que me sai da boca
com a intenção de borrar o céu
de nuvens nascidas da tormenta
da profunda maldição de estar viva
o sangue é o caminho
que trilha o cansaço do ser
ser de carne e poema, balanço e recomeço
pelas guelrras arcaicas do animal
pedra sobre pedra a falésia
longe dos gestos a solidão de passagem
olho êxodo as pontes das asas
dos cursos das mágoas que se afundam
no lugar de derrame o silêncio
com o vagar arfante de um sonho de verão
deixo a lua e os espelhos para os que espreitam
deixo apenas uma lente estreita
num pulsar que nunca dorme, nunca se cansa
acompanho o arrasto do afastamento dos barcos
na ventilação marítima da saudade que fica
a luz atravessa as paredes de lágrimas
que compõem o mar das memórias
runas deixadas em poemas
tecidos que não tiveram outro destino
senão essa Atlântida desaparecida
dentro do meu peito
mas atravessam-me dias noites encalhados
revirando-me em ondas de revolta
partido aos bocados pela praia
porque não posso mudar o que não conheci
fui atirada das alturas sem destino
como quando nos fecham num frasco
e se esquecem de nós num aquário
num pedaço de vidro sem paredes nem portas
sinto a alma dentro deste corpo garrafa
imóvel, inerte...que em nada se converte
que nem sequer mais envelhece
condenada ao olhar vidrado da contemplação
que o mar insiste em trazer de volta




Sem comentários:

Enviar um comentário