caem as folhas no seu fim de ciclo
recolhem os animais ao seu abrigo
num sono confortável de espera
de um céu mais intenso de espectro
o céu...o espaço aéreo onde se contempla
esse vai e vem de rotações do pensamento
caem gotas sem trajectória alinhada
para a confirmação de uma lágrima, no rosto
que contra a transparência se deixa ser anil
caem as gotas marteladas de mágoa
cada uma caindo mais forte que o nada
nesse torrencial de momentos
que preparam a resiliência da alma
para se transformar em pétala, pena ou escama
a um corpo despido
que escolhe ao desabrigo
por querer sentir o frio, a chuva caindo
um corpo escorregando das mãos do destino
com a viscosidade obstinada da raiva contra
os dias que se levantam sem vida
do desaguar de compromissos do andar
do continuar a encontrar a chuva antes de cair
a viscosidade dos mantras
que nos escapam das ladainhas dos céus
quando no alto há apenas corpos nuvens
cai-me lá de cima o pensamento de uma gota
gota a gota que se vai juntando às outras
a chuva que bate no ventre
para esse preparar da semente que rompe a terra
todos os dias nascem poemas
talvez ervas daninhas para corromper o ciclo
de vida e morte tão definido
caem gotas marteladas de mágoa
caem as folhas no seu fim de páginatodos os dias nascem poemas
poemas de corpos despidos rompendo
contra o poder dos ciclos
Sem comentários:
Enviar um comentário