sábado, 5 de novembro de 2016

do concreto: todos os dias nascem poemas



caem as folhas no seu fim de ciclo
recolhem os animais ao seu abrigo
num sono confortável de espera
de um céu mais intenso de espectro
o céu...o espaço aéreo onde se contempla
esse vai e vem de rotações do pensamento
caem gotas sem trajectória alinhada
para a confirmação de uma lágrima, no rosto
que contra a transparência se deixa ser anil
caem as gotas marteladas de mágoa
cada uma caindo mais forte que o nada
nesse torrencial de momentos
que preparam a resiliência da alma
para se transformar em pétala, pena ou escama

a um corpo despido
que escolhe ao desabrigo
por querer sentir o frio, a chuva caindo
um corpo escorregando das mãos do destino
com a viscosidade obstinada da raiva contra
os dias que se levantam sem vida
do desaguar de compromissos do andar
do continuar a encontrar a chuva antes de cair
a viscosidade dos mantras
que nos escapam das ladainhas dos céus
quando no alto há apenas corpos nuvens
cai-me lá de cima o pensamento de uma gota
gota a gota que se vai juntando às outras
a chuva que bate no ventre
para esse preparar da semente que rompe a terra
todos os dias nascem poemas
talvez ervas daninhas para corromper o ciclo
de vida e morte tão definido

caem gotas marteladas de mágoa
caem as folhas no seu fim de página
todos os dias nascem poemas
poemas de corpos despidos rompendo
contra o poder dos ciclos

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