segunda-feira, 14 de novembro de 2016
Precognição
há algo de infinito que me caiu de ti
que pressinto que não é daqui
que me foge, que me escorre pelas mãos
a cada respiração, que de tão forte
nos espalha como cinzas ao longe
e depois como vagabundos da noite
atravessamos a escuridão
passo ante passo
sou embalado nesse colo de aia
do infinito que me caiu de ti
com a simplicidade do envolvimento da terra
quero sentir que sou levada
poisam esses dedos macios de pétalas
sobre a fronteira da pele que é nossa
levar-te nesse colo que passa entre a chuva
raízes que caminham como passos de ontem
as copas nuas para a extinção do voo
caminhas com teus pés no limbo
esses passos de antigas ruínas que não conhecem
o calejar da terra sem caminho
as tuas saias vendavais que interpreto sinais
deixando um rasto de lua na sombra
são os trilhos da floresta iluminada de panos
panos brancos ou pássaros de cristal
portas abertas dos rasgos troncos
olhos que espreitam dentro dos corpos secos
tudo leva o seu tempo para chegar
na linguagem perdida do primeiro mundo
hão-de caminhar aranhas como morcegos
e libelinhas como cavalos negros
havemos de renascer desse âmago
porque tudo leva o seu tempo
marca-se o infinito de um beijo
cravando letras no casco peito
num peito novo que se há-de descobrir
para respirar o alívio de um fóssil acabado de extrair
escuto o sopro das vozes atiradas ao espaço
das harmónicas cordas que resistem
o que se deixa na escuridão não faz parte deste mundo
as cinzas são levadas pelo expirar do vento
das gotículas da locução da chuva
abrir a boca, nutrir o céu do calvário
esse céu sobre a terra que nos chega mais próximo
para a transladação do poema à pele
há que atravessar o silêncio
onde não há momento outro
que corpo se carrega para o amanhã?
que levas tu nesses braços feitos de seda
por esse mundo de estreitos jardins de sombra
a última respiração do poeta
um poeta que dorme sem que morto
que repousa nos braços dessa aia mundo
há algo de infinito que me caiu de ti
que pressinto que não é daqui
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