domingo, 18 de dezembro de 2016
a vida de um rio
as águas percorrem o monopólio dos afectos
desse rio que está ainda por nascer
da gestação de tudo o que está por chorar
dos movimentos de massacre do coração
o rio flui sem idade para desembocar num mar doce
querendo degraus para tropeçar em cascatas de paixão
nasce para o encontrar de um corpo impermeável
nasce do espírito abalado de interrogações
de estarmos à mercê de um ventre sem remoínho
subterrâneo um destino que acontece
que se prolonga do imaginário à ondulação
um movimento suave mas possante
que nos arrasta sem que abracemos as margens
porque uma mão não basta
mas nós somos um rio de valsa lenta
porque nascemos em olhos de água
pelas entranhas de cada bifurcação do depois
por onde a procura foi só o berço de devaneios
o pesar do enigma vivo..por aqui andamos..sem mais tempo
para o salivar do coração à tristeza
agarrar o lugar do instante..aqui de verdade
como salvação para uma vida inteira
porque a vida continua até à foz
a margem provocando os contornos do corpo
um corpo que sem fluir seria qualquer outro
águas clivadas a que chamámos de outras vidas
um rio sombra a que chamámos de eco sonho
mas quando parte, esse rio não é mais o mesmo
viajando-se a bordo de um caudal de esquecimento
alimento da hidratação de rios menores
há apenas o devaneio de transcendê-lo
nas imediações secretas do soalho chão terra
porque se fica. se vai ficando sem conhecer
um rio que nunca chegou a amadurecer
ficam os sedimentos no abandono das margens
e compreender o impulso da morte
indo ao encontro de um passado sem prenúncio
como a cadência desse rio que já partiu
invocando as texturas dos rituais do choro
porque esse rio nunca será encontro de si mesmo
revisitado de todos os lares sem porta
não precisar de ser entre paredes
encontrar-se perante a exaustão
de não ser mais água, nem céu, nem nada
porque a bruma da manhã nasce sem começo
o espaço oculto do número sem equação
as sombras elípticas que nos atravessam
todas as inquietações atraindo ao abismo
no gesto do despir das amarras sem depois
tudo fica, em bruto no fundo desse vulto rio
...fica o lugar de ser o vazio
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