domingo, 11 de dezembro de 2016

num vazio de quimeras


os pensamentos acordam com o cair da noite
o tempo do sol não sair da sombra
fogem do corpo contraídos gemidos
ao colo, uma cadeira que já não tem balanço
dos cestos novelos de pó, sobre a mesa frascos
um líquido corpo pastoso que talvez tenha sido choro
a neblina do encanto repassa a pele das cortinas
do longe animais varrem todos os caminhos de dentro
o barulho do vento imitando a aridez das cavidades
os olhos ardem de uma febre pouco terrena
como o fechar de todas as gavetas das coisas vencidas
ficará no fundo o primeiro momento da captura do mundo
da invenção do silêncio como frase pura de coerência
porque não haverá mais nada a dizer
trazer consigo a sintaxe de toda a eternidade
a solidão fecundando ecos no vale das aves quebradas
acorda-se com a vontade de levantar o tecto, de arrancar o chão
de deitar abaixo as paredes do coração
porque foi caindo a noite
e é tão difícil mover-se no intervalo das sombras
porque tudo resiste a nós e só mais tarde se desfaz
então o néctar é um grito desdobrável
de tecido de alma plástico
e anda-se uma vida inteira a borbulhar de lava e cólera
para brotarem apenas horas do ordinário
e das infinitas órbitas das faculdades do voo
que vão a enterro pelo chamado tempo
fica o tempo do verso que chama, que é chama
o prolongamento do verso sem tempo, a cinza
que não se renova das coisas entendidas
nesse bater metálico o extraordinário sentir mecânico
pela noite pelo dominar dos pés que vagueiam
ungidos de uma saudade desfigurada
do ser sempre ontem e mais nada
hão-de surgir palavras para quê?


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