Há uma
criança a ser descarnada pelo tempo
os galhos
ramos de silêncio estalam
dedos de
feiticeira magros cadavéricos
entes
erguidos no seu posto zelam
pelos
portais de outro hemisfério
do vírus
vida, tudo brota luz rasgo de folha
lagos
santuários de musgo desfigurados
fissurando
os muros dos caminhos estreitos
as
palavras que rumam ventos mistérios
as falhas
dos seus corpos
deuses
contemplam a imperfeição
o olhar
da noite sem fim
cada
rosto de criança planta
o
pronunciar lento de um tempo sem ampulheta
arenoso,
pó de canela, que não avança
essas
crianças que nunca saíram das entranhas
uma
lembrança
uma
memória que antes de nós era
os rios
rasgam a terra com as mãos
escravas
da lavoura mais próxima do chão
a sombra
que atravessa a vida
o vagar
das horas para o aceno de ocaso das copas
meu anjo
negro obstinado
segura-me
pelas arcadas paciente
para me
soltar da carne
das
chibatas do coração
do
caminho
meu anjo
negro obstinado
revira-me
de azul
das
pernas dobrar-me ao animal
as
malditas incendiarem-se
e vezes
sem conta morrer de novo
e vezes
sem conta morrer de novo