terça-feira, 27 de junho de 2017

ENCARNAÇÃO revisitado



Há uma criança a ser descarnada pelo tempo
os galhos ramos de silêncio estalam                                           
dedos de feiticeira magros cadavéricos                                          
entes erguidos no seu posto zelam
pelos portais de outro hemisfério

do vírus vida, tudo brota luz rasgo de folha
lagos santuários de musgo desfigurados
fissurando os muros dos caminhos estreitos
as palavras que rumam ventos mistérios

as falhas dos seus corpos
deuses contemplam a imperfeição
o olhar da noite sem fim
cada rosto de criança planta
o pronunciar lento de um tempo sem ampulheta
arenoso, pó de canela, que não avança
essas crianças que nunca saíram das entranhas

uma lembrança
uma memória que antes de nós era
os rios rasgam a terra com as mãos
escravas da lavoura mais próxima do chão
a sombra que atravessa a vida
o vagar das horas para o aceno de ocaso das copas

meu anjo negro obstinado
segura-me pelas arcadas paciente
para me soltar da carne
das chibatas do coração
do caminho

meu anjo negro obstinado
revira-me de azul
das pernas dobrar-me ao animal
as malditas incendiarem-se
e vezes sem conta morrer de novo


e vezes sem conta morrer de novo

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