domingo, 18 de junho de 2017
horas mortas
abro a janela porque não posso mais com a escuridão
a cama arde-me por dentro da carne
enfrento o temor acelerado do medo
o quarto é um mirante colado aos céus ardentes
levanto-me, dou voltas pela casa, há um terrível propósito
nos infaustos pensamentos que se me murcham
não há vista, as paredes brancas do reflexo são eu
de que faleço, o diálogo é um inferno em constante repetição
havia cinzas e fumo no quarto, línguas remotas nos meus passos
o universo tal como o conheço parou.
preciso que um esqueleto, uma câmara fotográfica ou um lápis
nada podem, o que há de definido são as sombras
o sonho está como o ar quente que não refresca
também ele é a ilusão que nos resta
o corpo tenta combater um não sei quê que lhe falta
mas os orgasmos saem pela janela e batem nas paredes da frente
num agonizar disfarçado de pássaro ou de bicho rastejante
são os olhos vivos dos demónios que me ensanguentam os olhos
numa marcha de terrores que me trazem um amanhã de mais medo
que de hora para hora vai vencendo as minhas palavras
e nem os silêncios dão tréguas.
é uma tarefa interminável, a de esperar, que as faces de um prisma
se conjuguem em concreto e ainda sempre nebuloso
que eu possa sentir nas minhas mãos a vida sem fúria
finalmente afagada por um entendimento onde o inadiável
não terá mais momento.
é que o medo deste medo, é daqueles que queima por dentro
e que me traz de volta para se renovar de energia de mais medo
por isso abro a janela, o combate cessa quando aceito a minha impotência
porque não é a temperatura que me deixa nesta agonia
aceitar a escuridão ou aceitar também a luz, porque não é isso que importa
das ausências de sintonia ou nas ausências de sintonia
nesse descompasso onde de facto estamos perdidos,
o medo talvez faça sentido
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