quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

Anima profunda


o curto fôlego do inverno sonoro
acolhe me na casa paterna do submundo
alumiada por castiçais de ossos e repulsas
emanadas das paredes carnais húmidas de sangue
é um ramo de hortenses com dentaduras de aço
é o primeiro assalto da noite para uma gaiola da altura do peito

há no candeeiro pigmentos de purpurinas
ou a cauda de coisas estrelares a descoberto
e a presença recém chegada de uma órbita
que veio para instalar de nadas os sem tecto

levo a mão aos beiços brancos
o tempo vago para a palavra estrangeira
das mãos enxadas para um buraco mais fundo
o corpo papel de seda
ou um biombo de tristeza
Crescem na vez de garras sopros para apagar a luz
do pescoço canos de longo alcance
para fuzilar o vácuo de mais vácuos

depois uma cama de ferro preto arabesco
os livros empilhados na cabeceira
só o debate nesse céu de estuque constelado
e horas passadas em conversação anímica
é um azul brando por trás das quimeras
atados ao calcanhar guizos murchos de inverno
a alma ouriça aberta de beira de estrada
e as águas correndo umas para as outras
uma pomba negra de mácula pelo adeus
ou a missão iniciática do nascimento
ou um avatára síntese do caos
um homem pêndulo cravado o sol na pedra
para lavrar o tempo de mais tarde
de vento oeste o trono corpo de pontas esculpidas
emergir do centro do disco ou da onda da baleia
como uma panaceia de silêncios pacíficos
o mar profundo dracónico
abrindo uma enseada para o palco da alma
o imaginário ovo cósmico
e o coração ainda jovem de sede flamejante

invejo o coração jovem dos flamejantes

as forças inoculadas no âmago de uma lágrima
invocar o céu num furacão
ou ingerir o líquido elemento da placenta feliz

na perigosidade de olhar para a vida no seu todo
tão rápido é-o no pensamento
ás vezes nasce se com esta ideação outras morre se por perto
A morte entretém-nos de razões
A morte pensa com fome
e um pensamento de barriga vazia é perigoso















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