terça-feira, 25 de agosto de 2020

intra Tejo

 


como um silêncio de lápide aberta

ou lugar escavado por ocupar

um alicerce de terreno por erguer

na casa por crescer, há um pós vida

que alguém ainda há-de...

corrompido por altifalantes serpenteando

as sementes dos vivos

um mar morto, petrolífero

onde o processo profundo de um latir

fere rasgando esse manto que abre caminho 

pelas margens dos precipícios 

desliza assim de noite um barco a remos

um pescador recitando linhas de prata

noites inteiras apanhadas na rede

e sempre ao longe um dique abismal

para quem adormece...

nesse sangue dessa ponte erguida

a boca um arpão de rapariga

diz que viemos da água...

desse rio mãe placenta

Ônix águas do espaço que nos separa

quando nascemos em alto mar, caravelas de branco 

mas é no rio que lentamente flui a morte

uma narrativa de luz baptismal

e nas margens, espantalhos de ramos ardidos

grifos mesclados na encosta rochosa

e ruínas de lugares termais

como pode um homem alinhavar as horas da noite 

sentado num baloiço de casco, um pico de topo, terror noturno 

algo que pasta por ali sem ser gado

apenas lamento 

leva a mão à água que bate contra a margem

a gélida presença no rosto que precisa despertar 

e num piscar de olhos, lá entre a sombra de nenhures 

Seu pai, acenando a boa sorte 

para a travessia mais esbatida da via lactea

a tarefa de se colher da água a alma

e dar de alimento, ao corpo 



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