quinta-feira, 27 de agosto de 2020

Escutei atenta mente

 telegrama de obsessão do ocaso parasita

a noite por estrear monumental 

cálculo da demora num post scriptum

no exagero de certas maneiras já o pranto

o que nos mantém afastados de lugares desesperados

para cá ficar o resto da vida instável 

talvez as coisas nunca cheguem a ser rasto

porque há o consumismo varrido da ânsia 

depois ser se vendaval esbatido

vigia se a morte como ave de rapina

a orquestra quieta no salão de baile

queimados do sol e ainda por atingir o horizonte que se achava preso realizado 

a técnica de andar à roda 

onde uma cicatriz que se descose na linha 

para cantar certos duetos de demência 

despiu se, atirou os sapatos ao rio

rasgou se aos poucos na pequenez do escárnio 

e no infalível abandono da composição 

para entrar no estupendo airoso e fictício 

massa analítica pneumática 

os botões ao peito sem mais arranjo

o relógio de pulso parado

no combate à paralisia de um rio já seco

depois um avião pessoal imaginário

pessoas rindo ou gritando no campanário 

por cima das mesas e das nuvens

um sítio em altura para pessoas sem morada

muro infame

(somos uma história comprida em poucas palavras)

trapos arrumados no chapéu do ceguinho

como se desligada a bateria de um velho ditado

e o insucesso do mundo 

debaixo da roda de um camião 

talvez criptografadas  para uma metrópole de linguagem corrente

mas há coisas que não têm explicação 

como o respirar de um incêndio aperto

dou comigo a pensar no inevitavelmente não aproveitado

aquilo que nem as chamas quiseram suas

se pagaria mais tarde 

seria uma figura em pose não artística 

numa quadra festiva que nunca deixou saudade

dizia para os peixes atordoados 

-não sei se falhei na última carta 

ou se a mão foi afinal sempre fraca 

gargantas roucas guinchos infernais

o ressoar lúgubre das velas queimadas

aquela ideia de enorme paredão 

para se entoar um fim afinado.

DEPOIS engoliu um trago demasiado

falei lhe das passagens para o outro conceito 

o mar abrindo o peito a essa velha bruxa de rio

e começava lentamente a bebedeira...

para lhe pendurar por uma corda

onde lhe servisse de forca

o cadáver 




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