o manobrar do leme por um cão insano
soar a tempestade em tarde de verão
soar a tempestade em tarde de verão
o sacrifício de cordeiros pendurados em cordas musicais
com a força dos músculos de velhos sopros
e sobre pedras bicudas deixar cair a alma
sobre espinhos desvairar para suportar nascer
por ali fora aos coices por acção de ciclones e tormentas
aquando de um único momento e só
uma espécie de vazamento de tragédia
uma grande festa de imensa misericórdia
quando o espírito deixa de resistir e de ombros possantes
a carga espalhada ao chão
haverá sempre manhãs difusas
para o tempo de clausura e asfixia
o encontro da noite e da chuva, as veias engolidas por mastigar
essa chuva de pregos repetidos
pesada como chumbo
pegaram-me ao colo
vim a morrer da simples mordedura de um anjo
assim entregue ao sobrenatural
brincando de agulhas numa caixa de costura
e vendo-me partir até a sombra cambaleando
até ao centro do coração sugado
a simples metamorfose de um passado
uma febre de tétano
a coluna tubular de ocos espaços onde me abro
de arcadas e armação de pássaro
sem mais delírio ou agonia
como cornos de bois as mãos que me lavam
o pecado a flutuar-me na carne e no espírito
para ser entregue a um peito materno
um peito de paredes de vidro e sonhos reais
tal um cavalo incendiado que corre para extinto
a grande noite ácida e intemporal
repassada de choro e sorriso letal
essa noite de delírio de morto
abrir os olhos para a busca de pássaros no alto
entidades que se rasgam do tecido de azul
a beleza das coisas que se tornam concertos
trata-se de um alvorecer que desliza da ampulheta
uma clepsidra que desliza de uma lágrima
o sangue suíno que escorre nas horas
um grande alguidar onde se amanham as formas
e o lugar do corpo suspenso numa simples brisa
todo o corpo se faz fluir ou florir em memórias doces
abertas as comportas da grande viagem
a hipnose de um gato que dorme
e a dor de mutação de guerra
porque há um semeador das perturbações do mundo
um cacto plantado em milhões de novos frutos
que lastima o vazio das colheitas perdidas
a vida nas filas de espera
um bezerro em desespero
e onde qualquer eu estava só de passagem
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