talvez
a mosca presa na teia ardilosa da metrópole
estas ruas dão para Oriente
polígrafos do silêncio que atravessa os antigos prédios
a noite vê-se rogada de atalhos
e candeeiros dirigíveis que apagam e acendem
da janela marteladas de máquina
uma queda húmida no arranque do carro
que insiste em não pegar na esquina
às vezes parece que as palavras estão gastas
o fio de prumo na asa pomba
esses mesmos glóbulos brancos que por monóculo extasiantes
talvez a vista nunca se canse
-não estão mortos, mas também não vivos
como pardais na linha de água estarrecidos
o teu rosto a quem se deu vida
esta cidade que nos volta costas
que nos empurra suicida
são as colinas dos injustos
para a benção e misericórdia dos desejos
como quando deixamos a roupa estendida e chove
são montes estacionados em Meca
ou a alma arquitectada no além
no primeiro andar mora o resistente do fogo
vai às putas deita-se com a calamidade
e quem não perdoa é a cinza viúva
história...do oculto das paredes
a palavra fundação salta pela janela
traz o processo de arrasto
-me invoca, me invoca que sou fraco
anda filha, anda lá com isso que estou velho
um moinho torto de asco
e a corrupção de carne doente alucinose
alguns de nós deambulam espectros
bumerangues pelas causas nominais
ano após ano, incansáveis
a roupa balança na corda, amanhã está morta
cada um de nós puxa pelos outros
na imagem de quem puxa as redes no areal
assim, quando se sente alguém ser escoado à margem
uma mão estendida agarra e trás de volta à vida
diz-se. Que esses desígnios estão saturados de rima mas esfomeados de sangue pulsante
esse mesmo deus fecha e abre a sua mão
um fole de respiração combatida
vocábulo opcional a combalida. Melhor para ovelha
então olha-se para o senhor da bengala pé de cabra
pequenos gestos para longos passos de arrasto
pergunta-se o que move ainda o espírito
que carrega às costas um corpo quase anjo
é tão lindo chegar-se a velho, tão bonito envelher-se
sem fenda, esmola, a alma em brasa lenta
e um jardim repleto de adendas
naquele tempo todos casavam uns com os outros, e quem não casa...viaja
sente saudade das avós, de um último dia
um dia não calibrado de horas. Eterno.
a sensação de que todas as almas se parecem com petúnias
opulentos pentagramas carnados
é tão quieta a noite da deambulação
-poderíamos estar horas nisto...
E os seus frutos duplicam, desejo de satisfazer-se no alto
as suas almas pertencem-se.
-é..como se parassemos o tempo
por favor não deixes de martelar no vazio
de tanto bater...voou