talvez
os tempos nos tenham baixado a proa
a mosca presa na teia ardilosa da metrópole
a mosca presa na teia ardilosa da metrópole
nem pássaros ou flores absolutos elos de dor
uma ideia de eclosão frágil do mundo
à roda do sereno retomar das aves
o vocábulo prenho
escondido como bruxos apocalíticos
na beira de um poço seco e fundo
atira-se ao chão o que nos leva a reboque
a mulher terra um cocheiro desvairado
habitamos um pátio de galinhas
o ovo espreita no parapeito sem nascer de facto
acidentes que a goela socalca ao fundo
um sentimento de estar sempre atento
flores de beladona ao deus-dará
como se as manhãs já fossem tardes
e o envelhecer por três-vinténs fosse um disparate
no canto mais obscuro é lá que as gatas
têm os seus próprios filhos
braços telepáticos de amor incandescente
o timbre dos elétricos volumes agudos
o coração dilatando de angústias de adeus
o fim da seiva abrindo as portas da grande selva
o felino solitário que se aventura pelos telhados
coisas banais que constroem o imaginário
a quem bebe sofregamente pela boca da verdade
e que verdade mais crua que o deglutir de um filho
para o proteger da enfermidade do vazio
se retirássemos o fundo e a mosca pudesse cair
um lugar de passagem lentíssima e imperecível
podermos vibrar conectados com as paredes do espaço
espécie de gaiolas de pássaro que não voa mas plana
pássaros ou peixes estáticos trementes e anulados
é como se fossemos agora a própria gaiola
na aceitação de não haver mais pássaro ou peixe
haverá peixe no fundo do poço?
não é essa a paz que numa espécie de nó
uma labora antiga e até agressiva
um céu de nimbos quase sufocante
o espelho do próprio espelho
nos desconfia do quieto?
peixe quieto está morto
é que a miséria tem o seu próprio alimento
para os miseráveis do vento
e a dor tem a sua íntima presa
para os comiserados do tempo
tudo próprio do seu próprio lugar de fundo
que se mata mentalmente de boca a boca
de hora a hora
de vocábulo em popa pelo mundo
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