há formulas mágicas
são painéis temporais que nos entretecem a alma
memórias de infância que hoje atormentam
o que faz e refaz o campo geográfico da dor
um convite tumultuoso ao desencanto
e templos de confronto próprios do seu tempo
são difíceis os caminhos dos sem caminho
diz-se que flutuam em prazer perturbante
na sedução do verbo, no amanhã de um satélite
que é a morte
gente que sonha com lágrimas
num regime de província enferma
historias de resistência e memória de volumes
de um mundo que não pertence a nenhum reino
entre as passadas de um anjo ou transparência
o único órgão que respira da ruína
como se a aritmética do ser fosse leviana
uma despesa da cabeça que nos custa o mergulho
e mesmo esses que nascem como plumas
hoje moribundos de grandes penas
há o inesquecível lugar do sonho
o desmaio contínuo de um hálito nocturno
que desagua no produto da solidão
e pôr o pé na sombra
a mão daquele que lança o espírito ao ventre
e dele arranca um plano resolvido
há a pecaminosa solidão dos asilos
o chão dos dormitórios dos anulados
a disfarçada sujidade dos encarcerados
e a nódoa moral dos que viram a cara para o lado
nem mesmo as horas debruçadas na ponta da língua
se ajustam à reflexão residual
talvez seja um luxo ficar a olhar
o barco que deixa o cais revirado
que o amor é precisamente o impulso de se atirar
há os que põem o pé e vacilam
milicianos de medos e de insustentáveis verdades
mas tantos barcos atravessam carregados de esqueleto
para viver num país tão pequeno que caberia num dedo
até amanhã esse amanhã terreno
um lugar ininterrupto de tributos
quando esse dia chegasse, sepultava de forma náutica
como uma escultura pesada e cheiro a salitre
o anseio convulso de me sentir naufrago
e os pés são reais como âncoras de ferro
metade de nós desliza logo à nascença
o resto...fica lá dentro para o regresso
todos os dias o corpo hirto lamenta-se pela
memória acústica das palavras
os olhos mortos a boca estarrecida sabe que pára
o principiar da sombra, metais cortantes desmedidamente frios
e a saliva o veneno das tripas
e é precisamente nesses dias completos
um sorriso vertical da permanência parada
do suor das lágrimas
o que nos escorre da vencida força sintética
para o murmúrio das serpentinas da vida
e vertigem, há um grande fosso entre o cais e a partida
reza a salvação como se dessemos milho aos pombos
no limite da distância entre nós
e o peso que carregamos aos ombros
-dou por mim a reconstruir a lógica quando lhes calculo o voo
à cata do peixe no súbito lugar da infância
move-se na cama para escapar ao pesadelo
quer dar um grito mas sai mudo
necessitar do absoluto à íris coalhada do fim
de que em absoluto há um fim e um sétimo fôlego
para o arrependimento
Sem comentários:
Enviar um comentário