sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

review do poeta

 

estas ruas dão para Oriente

polígrafos do silêncio que atravessa os antigos prédios 

a noite vê-se rogada de atalhos 

e candeeiros dirigíveis que apagam e acendem 

da janela marteladas de máquina 

uma queda húmida no arranque do carro

que insiste em não pegar na esquina

às vezes parece que as palavras estão gastas

o fio de prumo na asa pomba

esses mesmos glóbulos brancos que por monóculo extasiantes

talvez a vista nunca se canse

-não estão mortos, mas também não vivos

como pardais na linha de água estarrecidos

o teu rosto a quem se deu vida

esta cidade que nos volta costas 

que nos empurra suicida

são as colinas dos injustos

para a benção e misericórdia dos desejos

como quando deixamos a roupa estendida e chove

são montes estacionados em Meca

ou a alma arquitectada no além 

no primeiro andar mora o resistente do fogo

vai às putas deita-se com a calamidade

e quem não perdoa é a cinza viúva 

história...do oculto das paredes

a palavra fundação salta pela janela

traz o processo de arrasto

-me invoca, me invoca que sou fraco

anda filha, anda lá com isso que estou velho

um moinho torto de asco

e a corrupção de carne doente alucinose

alguns de nós deambulam espectros

bumerangues pelas causas nominais

ano após ano, incansáveis

a roupa balança na corda, amanhã está morta 

cada um de nós puxa pelos outros

na imagem de quem puxa as redes no areal

assim, quando se sente alguém ser escoado à margem

uma mão estendida agarra e trás de volta à vida 

diz-se. Que esses desígnios  estão saturados de rima mas esfomeados de sangue pulsante

esse mesmo deus fecha e abre a sua mão 

um fole de respiração combatida

vocábulo opcional a combalida. Melhor para ovelha

então olha-se para o senhor da bengala pé de cabra

pequenos gestos para longos passos de arrasto

pergunta-se o que move ainda o espírito 

que carrega às costas um corpo quase anjo

é tão lindo chegar-se a velho, tão bonito envelher-se

sem fenda, esmola, a alma em brasa lenta

e um jardim repleto de adendas

naquele tempo todos casavam uns com os outros, e quem não casa...viaja

sente saudade das avós, de um último dia 

um dia não calibrado de horas. Eterno.

a sensação de que todas as almas se parecem com petúnias

opulentos pentagramas carnados

é tão quieta a noite da deambulação 

-poderíamos estar horas nisto...

E os seus frutos duplicam, desejo de satisfazer-se no alto

as suas almas pertencem-se.

-é..como se parassemos o tempo

por favor não deixes de martelar no vazio 

de tanto bater...voou








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