pisca um traço no biombo da retina
o reconhecimento facial de um estranho
o reconhecimento facial de um estranho
ondas de calor para a sua oscilação
no deserto poeirento de uma tempestade
essa linha vertical do ser colidindo com a transparência
e amargamente, o oasis será sempre passado
partido em dois, no antes e no depois
crianças oníricas nessa espécie de prioridade
enferma de inocência, carente de vocábulos agrestes
um percurso bafiento de lápides por estrear
um verão do para sempre estradas do mundo novo
para o homem inacabado
há uma metade da vida e outra metade da morte
uma cadeira de rodas que antes serviu de baloiço
um berço que agora sempre cedo demais chora
o tempo líquido para a extinção sempre certa
o tempo inteiro, inteiramente expelido do corpo
nesse método de locomoção viral
uma guerra mundana de barreiras barricadas
e o homicídio do único desastre mortal
dizem que as crianças são a panaceia
o símbolo da viagem que se atravessa de noite
na atmosfera do vazio, na esfera finita da dor
pergunta-lhe nessa cama de hospital pela fórmula
pede-lhe as coordenadas do foco dessa paz
que as uns alimenta a máquina e a outros a paralisa
são os crimes do imaginário, os seus pecados expiados
ser capaz do instinto metamorfósico animal
essa coisa da sobrevivência, os cabos que nos manipulam
atarrachados ao centro plásmico lávico da alma em erupção
para que o tempo seja sempre jovem
milagreiro sacro oceânico e de conforto
a mim me encontra o conforto nos teus braços
de ano para ano vão caindo películas escamiformes
a minha alma simplificando-se num só conceito de estar vivo
no conceito em si como condição única
essa atividade cardiovascular imunológica da dor
muito ao de leve, muito mais breve do que sempre supus
depois de induções de um sistema interdimensional de nadas
depois de voltas centrífugas de me consumir e reformar
depois de todas as almas por mim atravessadas
ficar cá dentro uma só, aquietada e simples
na palavra cicatriz só na palavra raiz
e apenas de visita a impaciência da vida
tinhas tanta pressa para chegar onde?
UM PASSO EM FALSO E VOLTAMOS SEMPRE AO INÍCIO
o significado tangível da vida é a morte
dizia que procurava mais pelos problemas da vida
pois ela em si é um conceito desvirtuado, sem qualquer essência
é um conceito que em si é apenas um ponto final na frase.
que colocado como suporte nessa linha vertical
atribui a exclamação À VIDA
dizias que quando estamos sempre a pensar ficamos mais pesados
que o silêncio do pensamento é a leveza extasiante do instante
como quando se tocam os lábios ou se abrem as pétalas
dessa estranha viagem celestial e bestial
há aqueles que nasceram caminhantes
guiados pela centelha da vida
com uma manifestação notável de orientação
dotados de uma missão ou um foco luminoso
e há outros que enfim, rodopiando sobre si mesmos
nesse movimento centrifugador vão cavando de mais dor
e depois há os outros, todos os outros que seguem
ou não sabem sequer que estão a caminhar
ou não estão sequer a caminhar e é o tempo que caminha por eles
nas suas deliberações oblíquas de mimo e papel celofane
recordo a primeira vez que pisei um palco
cheguei tarde, sempre tarde e fora do meu tempo
por isso o meu palco é um palco de silêncio
estava vestida de lápis desses de colorir, da cor da terra
e a mim sempre me quiseram foi crescer as asas
uma flor azul plantada num vaso muito branco
se as flores murcham ou ficam adormecidas não importa
esse grande vaso branco será sempre a paz da contemplação
do céu florido de azul
e pisca, piscam muitos outros traços verticais luminosos
cometas, satélites...pedaços de queda ou ascensão
em queda ou ascensão...em movimento
mesmo que já refratário da morte
quando as palavras nos começam a soar a despedida
é porque diante das nossas retinas estão biombos
levantou a mão, procurou pela minha
e com uma tremenda convicção partiu levando-me
recordo-lhe os horrores mas também a cor
um balão muito vermelho de ar quente
que vemos desaparecer..lentamente..lá no alto
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