Morrer na estratosfera
desprendido da teia do tempo
diz que se trata de uma eclipsofagia
multiplicada como uma pregadeira de fios
flutuantes de despimento subversivo
ocorreu-me a existência dos trilhos depois de borboleta
o chão que agora serve de rede ao casulo
esgotado dos cometas
sinto amargamente o peso da onda galáctica
no fundo do útero depois de parido
enamorado dos futuros filamentos do infinito
avistam-me do terraço flamengos
cabelos escuros de anjos mortiços
no fundo das costas terrivelmente femininos
dos sonhos meio recordados ou inacabados
teria deixado o vinco ainda quente e húmido
fi-lo lembrar de como a massa se deposita e depois pára
nessa metamorfose de pássaro
o tempo medita a existência na amplitude
nómada de todos os ventos
fossem todos os olhares o perímetro
a mão da criança penetrando o aquário
lago de pedra e nenúfar
quer agarrar o peixe, o sapo, a cobra, o chão
do mundo cremado do imaginário
Sabe que por dentro habitam ínfimos quartos
onde só cabem seres de pé emparedados
alguns aos pares outros monólogos
depois estender-se em baloiço de camisas brancas
as cordas fitas de liga
que a avó guardava numa arca de vidro
era difícil a respiração, sexual pubretária
batia-se nas paredes em morse
havia o odor de peixe frito e louro
ramos pregados em largas bacias parideiras
a música era o sopro dos dias conhecidos
uma casa sempre noite, e nós sempre verticalidade
- quando era criança baloiçava-me
não vais cair, o corpo agora já não tem peso
e tanto a dor não tem fim nem começo
Dormiamos de olhos abertos
assim vigas que vistas de fora
são os ossos calibrados de nanismo
esse quadro a óleo, herdei-o
mas os cascos, deixei-os descalços
Sem comentários:
Enviar um comentário