domingo, 27 de fevereiro de 2022

a lapidação é urgente

 

torres de cristal para o homem escalar
no dia depois do juízo final
necromante em missão sem terra
onde as estrelas seriam negros anos luz
um cemitério de lunáticos 
desviante de espíritos dorsais
que no impulso da noite são entidades 
que dizem respeito ao céu 
flutuou o dia transbordador
as arestas do sentimento fadigado
no ultra espaço deixado ao luar
a viagem no camarote diplomático da morte
virtualmente o corpo é membrana
o lugar esbatido sem amanhã 
sempre nós ao serviço de Proteu
vou mergulhar num sonho de reversos
o destino de outros quaisquer passageiros
porque andam as lendas difundidas
num enxame de astros fora de órbita 
um gesto de violetas pálidas 
que se abandonam de visita à campa
um dia o dia deixou as suas aparências 
e a sua beleza em estandartes 
a âncora mental próxima dos limites 
abriu os braços respirando fundo de livre
o dia livre de mundos sem escala
após o fulgor desértico das palavras
há sílabas na neblina de metais pesados
aqueles ventos que nos ficam 
as partículas que por estatutário acto
nos ligam ao silêncio fragmentado do mapa
pequenas mortes que deixamos no abraço do outro
sempre, se compara o corpo ao espaço 
quimeras quânticas de contacto
os velhos deuses que nos derramam de frio 
nervoso, um rosário trémulo 
de posse, hedonismo de uma galáxia civil
desfigurado o tempo e o clima ancestral
herdeiros de enclaves da urgência 
era míope a alma e o coração nunca tarefa 
sanguíneos capazes de surtos 
da exploração da metáfora ao vazio
da tomada da forma ao abstracto
do formidável ao derrotado
Há sempre um inverno dentro de cada homem
e uma nave pronta para forçar o abismo
mas da lua nunca passou
assim como a sua rua nunca atravessou 
a vida uma trepadeira que nos coroa
que nos quebra o caule de solene júbilo
que nos cresce dos pés para calejar 
vive-la de arrastão 
os seus gordos pássaros acorrentados 
a cabeça uma espécie de masmorra 
para se escalar no controlo absoluto
torres de cristal bruto, 
assim se partem tantos em bruto








domingo, 20 de fevereiro de 2022

Cordeiros de Zeus

 


no silêncio cataléptico
a indiferente presença estrelar
na quase transparente lâmpada atenuada
a roupa de fino metano capa voadora
emergido nas fissuras da pele
com a saudade de um demónio vivo
bolha espacial moldada
evanescente monitorizada sem gente
A planície acaba. Ali.
primária e macroscópica 
nos rebordos de ligeiras inversões 
sinto os passos depois de adormecido
o olhar resignado do sombreiro
a neve com os seus olhos vítreos
na órbita dos animais que pastam em círculo 
nos soberbos vocábulos do gado nocturno 
a célula até á última membrana
com todas as lágrimas caídas da cara
secretamente eclipsado nas partículas do tecto
débil de inclinações enevoadas
instrumento animado de extrema solidão 
para mergulhar todas as tardes em pântanos de transe
o golpe emocional de conchas aleatórias
hoje a máquina esquecida na planura
faminta, de febre de espectro
nemhuma espécie de céu 
a paisagem paralela mais que perfeita 
e a pessoa vívida, parida de sangue frio
animal seduzido de titã 
nos segredos do peito guarda catacumbas de medo
campo desertor de vigia raiada
as ervas dormem fechadas sobre si
mil léguas de silêncio sem tréguas 
a pastagem que lhe devora a vida
o pastor, que na tarde extensa sou eu
ou a sombra maciça de terra nenhuma 
num plenum dimensional de ânsia 
de comer o animal




sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022

dark web

 



Alveolos de terra são balões de oxigénio 

para nos revolvermos de acento 

a placenta que nos escapa dos pés 

efisema dérmico que nos atravessa de nós 

um conteúdo estomacal para ser revirado

na varanda de uma venia gatos desparasitantes de uma cidade acrónima

fios de abóbora parquimentados e cactos  espinhados de dormência pendular 

parecem trombones de alarme nuclear 

a mente um pedaço escrotinado de horas

milagres que vendemos, paletes de remos 

sem oceano

às tantas, dizem que estamos perto do fim

assim, gritando ou sussurando

dizem-nos que está tudo feito ou tudo pronto

e assim para nos entregarmos ao ponto 

numa plataforma aérea levanta se o corpo avião 

alguns já avioneta

como uma seta, uma linha aritmética 

porque nos falta o ar, escrevemos em qualquer porto, qualquer encontro

qualquer aborto do que nos fizeram

serve de porto, porta, aberta

todas as portas estavam escancaradas

quase que não foi preciso baterem me

e ainda assim levei porrada

de todos os flancos de mim

porque só assim, de amasso

poderia ter nascido

uma e outra vez do começo 

uma e outra vez de perfeito 

ou pelo menos, todos achamos que sim

os canais fonéticos da alma são poros

as luzes trepam pelas paredes

parecem cílios retorcidos ao vento

as nuvens em baixo são tecido ou lençol 

que um voo é muito mais do que vertical

a teoria desenvolve se no atestado de um mito

o livro é uma Bíblia ou um caderno de contas

o recosto da cadeira é um posto

e quando nos encostamos

o objecto tornar-se espinha dorsal 

corda de instrumento tocado fora de pauta

alienado  de cinzeiro onde o cigarro

é buraco no tempo


também encontras muitos buracos no tempo?