Tenho frio nos pés...porque o tempo arrefeceu
tochas penduradas dizendo...aquece-me a alma
conversas interrompidas que alguém emana
espantosas palavras que alguém da boca perdeu
Tenho cortes nos dedos...sensuais e amenos
manuseados por objectos de emoção afiados
fechando gavetas, retratos atravessam gretas
amante em pedaços, de impotência a braços
Passemos ao teatro, camarotes virtuais fóbicos
colocando binóculos que trespassam o pano
de inócua máscara o rosto, a cidade que demora
na última hora, a invisível palma batida morta
A grande vala, cavalheiros e senhoras de pressas
explicando-se uma nova era, de má-fé, de mau pé
que avança ao fundo...ecoando obsceno o futuro
o sonho de perfurar o poço, a cegueira, o tesouro
Brusco, o operário do afecto se atira do prédio
vertigem sobre-humana, uma alegria espantosa
de dizer Basta! No degrau final da decadência
a liberdade que desembrulha, em ascendência
E tudo retoma a rotina da natural volta do sono
em toda a parte, pés se esfregam um no outro
roubando um pouco à miséria
do pássaro de fogo
Tenho fio nos pés
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