terça-feira, 3 de dezembro de 2013

O Homem de cabeça virada

-Que estupidez!
Se o meu corpo caminha para a frente
e a cabeça para trás...

E o livro quebra-se
a cada página virada
da altura se precisa
de algum toque de companhia
de ultrapassar a ruptura
em dedicada luta
se a vida pode ser indelicada
que quadro arqueado!

-A senha por favor
Soberba beleza
desta terra de palmas
limito-me a agradecer
tudo-nada melancólico
prolongada alma

Como se tudo fosse
um jogo de spectrum
com o maior cuidado
um a um
descendo os degraus
da ternura lado a lado
de antiga simetria
à maneira de uma gravura
de cor e luz
van gohgiana

-Leva tudo agora
insinuante professora
estonteada preciosa
a da menção
"muito audaciosa"

Tranquilo
como o barco que baloiça
sozinho

E com a cabeça
apertada nas mãos
trazendo o alívio
lá em cima indeciso
em misericórdia
consolação
-cora, com razão

Minuciosa
mesquinha à medida
esse compartimento
de encadeamentos
a minha humilde farsa
pálida, de sorte a obra
ficcionada

Uma mensagem aérea
autora da narração
no ideal eléctrico
uma voz longínqua
nitidamente a minha
de um dia primaveril
-o carril onde está o carril?

Felizmente que o homem
tinha a cabeça virada
e não me viu

assim, estouvada



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